6#A gêmea da Guerreira Dragão do Mar

20-03-2025

Cap.6 - O encontro: A outra nova recruta

Azuli e Asta passaram na cerimónia de batizado e conseguiram tonar-se em membros oficias dos Touros Negros.

Então, depois de receberem os seus mantos, Magna e Vanessa levaram os dois novos recrutas a conhecer os seus quartos.

Enquanto caminhavam em direção ao quarto de Azuli, ela ficou a olhar ao redor, a captar cada detalhe da casa por onde passavam, com curiosidade. A base era maior do que parecia, elas estavam a andar há um tempo e, em uma determinada altura, Azuli estranhou algo.

Fios? - pensou Azuli a olhar para o teto. Ele olhou para o chão um pouco mais à sua frente: Por que há tijolos soltos? Pelo caminho até aqui, embora o material da casa seja simples: rochas, cimento e estruturas de madeira, estava tudo em ordem, por que neste lugar está diferente? Hã, flechas?! Em dúvida, ela decidiu perguntar à Vanessa: Vanessa, por que há fios e setas no teto?

- Ah, tu reparaste? - disse surpreendida. - Eles fazem parte das armadilhas que eu montei nesta parte da casa. Eles servem para impedir que algum espertinho entre nos quartos das meninas, que ficam todos nesta ala.

- Oh, então há mais delas? - perguntou Azuli.

Com um sorriso divertido, Vanessa respondeu - Com certeza. Sabes, eles podem até parecer inofensivos, mas isso não os impede de querer bisbilhotar os segredos de uma rapariga. - esta última parte, Vanessa falou a Azuli em um tom de segredo, inclinada e com a voz levemente mais baixa.

- Ahah, eu gostava de ver as armadilhas em ação. Será que eles alguma vez se irão atrever a chegar perto daqui? - perguntou Azuli, a achar toda essa história de armadilhas engraçada.

- Eles podem vir, mas duvido que queiram passar pelo mesmo que da última vez! Ahahahaha! - Vanessa riu-se com a lembrança dos meninos a vir aqui na última vez, ignorando os avisos que ela lhes deu.

- Eh, o que aconteceu nesse dia? - Azuli perguntou com muita curiosidade. Ela adorava histórias, e sendo elas sobre os Touros Negros seria mil vezes melhor.

Agora a olhar para a Azuli com um sorriso maroto e um olhar divertido pelo interesse genuíno da menina de olhos azuis celeste: Ora, isso é história para outra altura. Agora, está na hora de conheceres o teu novo quarto. Já chegámos.

Vanessa abriu a porta do quarto de Azuli, e entrou junto da Azuli.

- O tamanho não é grande coisa, mas deve ter um jeito de o tornar aconchegante. - disse Vanessa enquanto passava o dedo sobre a superfície da mesa disposta perto da janela e quando o tirou, estava cheio de pó.

- Parece incrível! - disse Azuli, o que fez com que Vanessa olhasse para ela com espanto. Este era o terceiro menor quarto da casa. Os móveis de madeira estavam velhos e gastos, poderiam partir-se a qualquer momento. Na opinião de Vanessa, o único móvel aproveitável, era a cama, e mesmo assim ela teria de ser trocada em breve.

- Basta uma boa limpeza e arrumar um pouco as coisas por aqui, que ficará fantástico! - Azuli disse, com os olhos com estrelinhas e um sorriso. Começou a formar dez pequenas esferas de água rotativas do tamanho da palma da mão de Azuli, que pareciam ter pequenas faíscas dentro delas, e atirou-as para diferentes lados do quarto.

Se ela está bem com isto... - Querida, se precisares de mim o meu quarto fica no corredor à direita na última porta. - disse Vanessa com um sorriso. Antes de fechar a porta, ela ficou mais um momento a olhar atentamente para Azuli, que estava a limpar tudo com entusiasmo.

O quarto de Azuli não era muito grande, mas se ela organizasse tudo muito bem, ela conseguiria dar a volta por cima.

Azuli foi para a frente da porta fechada, e começou a analisar o quarto, agora que o pó e as teias foram limpas, daqui a pouco Azuli limparia melhor o quarto.

O quarto tinha duas janelas na parede oposta à porta, uma em cada extremidade. A janela do lado direito, na perspetiva de Azuli, estava partida na parte inferior, permitindo que o frio da noite entrasse no quarto. A cama estava no lado esquerdo, na parede oposta à porta, ela era pequena e a madeira parecia velha, assim como o lençol, o cobertor e a almofada, que precisavam ser limpos. Da outra extremidade da parede, tinha uma mesinha pequena de madeira velha, em formato de triângulo, que encaixava perfeitamente na parede, com um candeeiro sobre ela, e um pequeno banco de madeira quase debaixo dela. Perto dessa mesinha, tinha uma pequena estante com alguns livros. Tanto o chão como as paredes eram feitas de tijolos, por outro lado, o teto era feito de madeira.

- Hm... - Azuli tornou-se pensativa, enquanto andava pelo quarto.

- Parece que a cama está boa, mas precisa de ser higienizada. - disse ela ao tocar na cama que não rangeu ou desmoronou como a sua aparência sugeria, mas que estava bastante suja.

Azuli olhou ao redor do quarto: Parece que as minhas roupas terão de ficar guardadas na minha mala durante um tempo. - disse Azuli ao descobrir que não tinha armário ou qualquer outro sítio adequado para guardar a sua roupa. Pelo menos a sua maquilhagem, que consistia em um batom rosa e rímel preto, podia ficar em cima da estante de livros.

- Muito bem, toca a limpar! - exclamou Azuli.

- Não podes perder o ânimo agora! - disse ela para si mesma com um sorriso calmo e um olhar distante, um olhar que refletia saudade e carinho, com o brilho da lua a entrar pela janela.

Ela não reparou, mas um pássaro com cara de entediado estava a olhar para ela de uma árvore.

Com o Asta...

Asta estava sentado em uma mesinha redonda vermelha no canto esquerdo do seu quarto, a escrever uma carta.

Este é o meu primeiro castelo, é aqui que começa a minha jornada, até o Rei Mago. - pensou Asta, era o mesmo que ele escrevia na carta.

A olhar para a lua através da janela, com uma expressão confiante, Asta jurou, mentalmente: Eu não vou perder, ouviste Yuno?!

Na base do Alvorecer Dourado...

- Ora, que lástima. É um desperdício entregar este quarto a ti. - disse Klaus, o superior do Yuno. - Amanhã, vou ensinar-te o teu ofício de cavaleiro mágico. - continuou Klaus, enquanto ajeitava os óculos.

Yuno apenas olha sem expressão para Klaus, que menospreza Yuno sempre que tem uma oportunidade.

Klaus - Bom, eu preferiria que não fosse o teu instrutor, mas foram ordens do capitão e eu tenho que obedecer. Estás a ouvir-me?

- Eu não sou surdo. - disse Yuno, abaixando a cabeça por três segundos com os olhos fechados, farto das provocações de Klaus.

Klaus - Hm.

Voltando a abrir os olhos, Yuno volta a olhar nos olhos de Klaus - E eu tenho um nome, é Yuno. Senhor Klaus. - ele disse esta última fala devagar.

Olhando-o de cima com o nariz empinado: Bom, eu sou teu veterano. Tu tens de me tratar com o respeito que eu mereço. - disse Klaus.

- Entendido. - disse Yuno.

- Acho bem. E não te atrases, estás a ouvir? - disse Klaus, a andar em direção à porta e depois indo embora, deixando Yuno sozinho.

Yuno, com uma expressão nada contente, contemplava a lua através da janela, pensativo.

Na madrugada seguinte, na base dos Touros Negros...

- É hoje! Hoje é o meu primeiro dia como uma Touro Negro! - gritou Azuli, a pular para fora da cama.

Eram 5h30 da madrugada, o sol ainda não tinha nascido e, como sempre, Azuli acordou, pronta para enfrentar outro dia.

Azuli pegou em um novo conjunto de roupa, igual à sua roupa habitual, que consistia em uma camisola vermelha flanela que ia até ao quadril e tinha um cinto com três voltas e três fivelas douradas, com mangas transparentes pretas com desenhos de galhos, umas calças degradê pretas coladas à pele e botas castanhas que subiam um pouco acima do tornozelo. Mas parou de repente.

- O que eu vou fazer em relação à capa e ao manto? - perguntou para si mesma. - Eu não quero deixar nenhum dos dois.

- Se é com isso que estás preocupada, eu posso ajudar.

- Hã? - virando-se para a fonte da voz, Azuli viu a sua companheira: Vanessa? O que estás a fazer aqui? - perguntou confusa.

- Eu ouvi um grito vindo daqui e resolvi verificar o que se passava. - explicou Vanessa.

Dito isso, Vanessa aproximou-se das duas peças de vestuário de Azuli e começou a analisá-las.

- Então, tu queres usar estas duas peças mas não sabes como. - disse Vanessa com uma mão na cintura e outra no queixo, pensativa.

- Sim, mas eu não quero parecer uma palhaça. - disse Azuli, com os braços cruzados, a cabeça inclinada para o lado direito e os olhos fechados, também pensativa, mas não era capaz de pensar em nenhuma forma de combinar as duas peças.

- Ah, deixa comigo. Afinal, eu sou uma perita em roupas. - disse Vanessa a piscar o olho para Azuli e um sorriso.

- Sério? Isso seria fantástico! - disse Azuli com os olhos a brilhar de esperança.

- Sim, só um instante, eu só vou buscar uma coisa antes. - respondeu Vanessa, que saiu do quarto.

A Vanessa é mesmo muito atenciosa. - pensou Azuli, contente por Vanessa ajudá-la.

- Muito bem, voltei. - disse Vanessa a entrar no quarto e a fechar a porta para abafar o barulho que faziam e não acordar as outras meninas.

- Está na hora de fazer magia. - disse Vanessa.

Com a ajuda de um item mágico, uma pequena varinha castanha, Vanessa ativou o seu poder, sem ajuda do seu grimório. As duas peças de roupa: a capa vermelha cereja e o manto dos Touros Negros, pelo qual ela lutou tanto, estavam a flutuar neste momento.

- Ora vamos cá ver... já sei! - exclamou Vanessa, com a sua voz suave.

Com um giro do objeto mágico, que estava a brilhar com o poder mágico de Vanessa, as duas peças começaram a fundir-se, criando algo novo: a capa com capuz folgado era agora em cor degradê, com alguns detalhes. O capuz era vermelho cereja no topo, e ia mudando de cor degradê até ao preto que cobria todo o dorso. Apenas do dorso para baixo, o degradê do preto para o vermelho começou. Mas a capa não era apenas cor degradê, na parte inferior da capa, ela tinha desenhos de galhos de árvores nas cores branca, castanha e preta, todos entrelaçados. O símbolo dos Touros Negros estava na zona do peito esquerdo.

- Que tal? Mantem as características alegres da tua capa antiga e também integra o manto com o símbolo dos Touros Negros. - perguntou Vanessa, a querer saber da opinião da colega.

- É lindo, Vanessa! - disse Azuli, maravilhada com a capa. - Muito obrigada, és verdadeiramente a minha fada madrinha!

- Ahahah, deixa comigo, querida. Sempre que precisares da minha ajuda é só vires ter comigo. - disse Vanessa, enquanto se ria, feliz com o elogio e por Azuli ter gostado da sua criação.

- Sim, eu irei! - exclamou Azuli.

- Agora..., posso saber por que estás acordada a esta hora? O pequeno almoço é apenas às 7h00. - disse Vanessa, curiosa em saber porque Azuli estava acordada a estas horas.

- Eu vou treinar um pouco antes do dia realmente começar. - disse Azuli enquanto pegava na bolsa de couro castanha com o símbolo dos Touros Negros com o seu grimório.

- Tão cedo? Não podes esforçar-te tanto de barriga vazia, ou ainda desmaias. - avisou Vanessa, preocupada com a Azuli. O que se passa na cabeça desta menina para ir treinar a uma hora destas de jejum? - pensou Vanessa, enquanto olhava para Azuli, que estava pronta para sair.

- Não tem problema, eu já estou acostumada, não me afeta mais. Além disso, eu preciso me tornar forte para proteger as pessoas que amo.

Dessa resposta Vanessa não estava à espera. Já está acostumada? Bem, logo, logo isso vai mudar. - pensou ela, lembrando-se de como ela própria se libertou e mudou neste tempo em que esteve com os Touros Negros.

- Seja como for, eu acompanho-te. Já são 5h40, os cafés estão quase a abrir. Antes de ires treinar podemos ir lá juntas. E não aceito um não como resposta. - disse Vanessa com um sorriso brincalhão, mas que não dava saída à Azuli.

- Ah acho que não fará mal atrasar o treino mais um pouco, vamos lá então! - disse Azuli, entusiasmada. Embora isto não estivesse nos meus planos, será divertido conhecer a minha nova companheira de esquadrão.

- Perfeito, deixa-me só ir vestir. Eu não demoro muito. - Vanessa foi para o seu quarto preparar-se.

- Eu espero-te lá fora, ok? - avisou Azuli.

- Claro, vemo-nos lá fora. - Vanessa disse, tendo conseguido ouvir embora já estivesse um pouco longe.

Azuli foi pelo mesmo caminho que Vanessa lhe mostrou ontem, mas estava a ter dificuldade em encontrar a saída.

- Tenho a certeza de que era por aqui..., ou será antes por aqui. - disse Azuli, para si mesma, dividida em qual caminho escolher.

- Muito bem..., vou... por aqui, sim! - disse já decidida a começar a andar por aquele lado.

- Calma aí, se eu fosse a ti não punha os pés aí. Por aí é o quarto do Yami, e ele odeia ser acordado.

- Vanessa..., eu tenho a certeza que estava a seguir o mesmo caminho de ontem, mas esta parede apareceu aqui. - disse Azuli a Vanessa, confusa.

- Opa, é verdade, eu esqueci de te contar que a base está sempre a mudar. - informou Vanessa, envergonhada com uma mão atrás da cabeça, a esfregá-la, e com um sorriso culpado.

- Como é que isso é possível? É alguma outra armadilha para os rapazes? - questionou Azuli, entre curiosidade e choque.

- Ninguém sabe, tudo o que sabemos é que devemos ter atenção ao andar por aqui. Logo logo tu vais acostumar-te. - respondeu Vanessa, enquanto as duas caminhavam para fora da base.

- Certo, vou prestar mais atenção a partir de agora! - disse Azuli, com seriedade.

- Não tens de levar tão a sério este assunto. - disse Vanessa, a achar graça ao comportamento sério da menina que estava com a sua nova capa com o símbolo dos Touros Negros.

Já na cidade mais próxima, as ruas estavam a começar a ficar movimentadas.

- Então, tens algum café em mente para irmos? - perguntou Azuli.

- Tu já vais ver, o café vende os melhores bolos de chocolate do reino! É de pedir e chorar por mais. - disse Vanessa.

- Sério?! - exclamou Azuli com brilhinhos nos olhos com a ideia de bolo. - Se é esse o caso devíamos correr, ou ainda acaba. - disse Azuli com uma expressão de horror, com as mãos no rosto.

- É por isso que estamos a ir logo de manhãzinha, assim temos mais probabilidade de conseguir um pedaço. Não te preocupes.- disse Vanessa, com um olho fechado.

- Por ali! - gritou alguém ao longe.

- Apanhem-no!!

- Não o deixem escapar!!

Azuli e Vanessa viraram-se para a fonte dos gritos.

- O que se está a passar ali? As pessoas parecem agitadas. - perguntou Azuli. - Devíamos ir ver!

- Pode não ser nada, mas verificar não custa. - disse Vanessa com naturalidade, como se fosse algo comum.

- Sim, vamos!

As duas integrantes dos Touros Negros começaram a ir em direção a agitação.

Vanessa parou um homem no seu caminho e perguntou sobre o que estava a acontecer.

- Ele é um vagabundo maldito que está sempre a assediar as mulheres, a roubar e a destruir propriedades privadas. Mesmo há pouco ele assediou a esposa de um nobre e atacou os seus guardas. Ouvi dizer que ele até roubou uma joia importante que estava na família há gerações.

- Entendi. Obrigada pela informação! - gritou Vanessa enquanto acenava para o homem que ia embora, com um sorriso.

- Se ele causa tanta confusão, até com os nobres, como é que ainda não foi apanhado. Supostamente, os nobres têm poder e dinheiro para comprar o serviço particular para apanhar aquele criminoso, ou não? - questionou Azuli.

- Sim, e pelo que ouvi por aí o criminoso consegue sempre fugir dos magos e guarda-costas das vítimas. Ele deve ser habilidoso. - analisou Vanessa.

- Então vamos detê-lo! Nós somos cavaleiras mágicas e o nosso dever é proteger os cidadãos, não é Vanessa!! - gritou Azuli com determinação.

Contagiada pela empolgação da menina mais baixa, Vanessa concordou.

- Nesse caso vamos começar a procurá-lo.

Em outro lugar qualquer...

- Droga! - disse um homem com um rosto desesperado. - Droga, droga!! Maldito seja! - gritou o homem enquanto andava pelo que parecia ser um salão e a derrubar tudo o que estava à sua frente.

- Ele levou-a... ele roubou o tesouro da família... nós estamos acabados..., eu estou acabado. - disse o homem, com as mãos na cabeça. Os seus olhos estavam sem brilho, não havia esperança, só desespero.

- Não... não..., não... Não, NÃO, NÃO!! - ele levantou-se e voltou a derrubar os livros das estantes e soltou uma poderosa onda de magia pela sala.

- Vocês!! - dirigiu-se o homem às empregadas, que estavam encolhidas de medo. - Limpem esta bagunça!! - disse enquanto saía pela porta

- Eu vou resolver isto. - disse ele com um rosto sombrio enquanto mexia no seu anel com uma pedra preciosa azul clara.

Algures em uma floresta...

- Hehe, os nobres são tão burros. - disse um homem desconhecido que atirava uma pedra em forma de diamante de quatro pontas ao ar. - Nem me viram chegar.

- Ah, agora é só esperar por novas instruções.

De volta às duas Touros Negros sentadas em uma rocha um pouco afastadas da cidade, agora muito mais movimentada, em que estavam...

- Então o objetivo do criminoso era roubar uma joia mágica daquela família nobre. - disse Azuli, a tentar compreender a situação.

- Exatamente. E aparentemente esse ladrão não trabalha sozinho. Dizem que ele faz parte de um grupo terrorista que rouba principalmente um tipo de objetos mágicos específico. - acrescentou Vanessa. - Parece que muitos desaparecimentos de pessoas estão ligados a eles também.

- Então temos de fazer alguma coisa! Se isso é verdade temos de pará-lo antes que faça mais vítimas! - disse Azuli com uma expressão irritada e decidida.

- E vamos, mas não agora. - disse Vanessa.

- Hã, por que não? Ele ainda pode estar por perto! - perguntou Azuli em dúvida.

- É bom estares tão determinada, mas antes temos de reunir mais informações. O que temos até agora não é o suficiente.

- Então vamos! - disse Azuli. - Começamos por onde?

- Não, não agora. Devemos voltar para a base e tomar o pequeno almoço, estou a morrer de fome. - disse Vanessa, com a barriga a dar horas.

Apesar da irracionalidade de ir procurar alguém sem saber onde ele está ou quem está a enfrentar, para Azuli, não importa o desafio que encontre no seu caminho, ela continuará a lutar e a seguir em frente. E não seria diferente desta vez. Agora ela era uma cavaleira mágica, e ela iria proteger o seu reino mesmo ao custo da sua vida.

Vendo a hesitação e a luta interior de Azuli, que estava cabisbaixa com os punhos cerrados com força... Ah, querida, tu importas-te demais. - pensou Vanessa. Pegando nas mãos de Azuli com as suas, Vanessa olhou bem nos olhos dela: Nós voltaremos e prendê-lo-emos, é uma promessa. Neste momento precisamos de recuperar forças e nada melhor do que a comida da Charmi, tu vais amar.

Agradecida, Azuli recuperou o seu espírito alegre: Ótimo, eu estou cheia de fome! Acho que farei o meu treino mais tarde. A propósito, já conheceste o outro novo recruta? Eu estou ansiosa por conhecê-lo. - disse a acelerar o passo em frente à Vanessa enquanto continuava a falar de coisas aleatórias.

Assim sim, ela fica muito melhor com aquele sorriso alegre no rosto. - pensou Vanessa, contente.

Na base dos Touros Negros...

O sol já raiava, era por volta das 7h00 da manhã e o canto dos pássaros já podia ser ouvido.

- Não foi um sonho. - disse Asta, que acabou de acordar com raios de sol que estravam pela janela, contente a olhar para o manto com o símbolo dos Touros Negros.

Agora vestido, ele saiu do quarto, pronto para começar o dia: Então vamos começar... Ah ai! - Asta bateu em uma parede.

- Esta coisa já estava aqui ontem?

- E aí novato, dormiste bem? - perguntou Magna, aproximando-se de Asta, com as mãos na cintura.

- Ah é, bom dia para ti. Oh veterano, esta colona aqui... - disse Asta com a mão esquerda na cabeça, e uma expressão de dúvida.

- O que ela tem? - perguntou Magna, com um sorriso.

- Eu acho que ela não estava aqui ontem. - terminou Asta.

- Ah, não ligues para isso, a base muda o tempo todo. - disse Magna.

- Como assim?! - questionou Asta.

- Ah, relaxa, daqui a pouco tu acostumaste.

- É sério isso, é? - perguntou Asta.

- Pois é, agora vem comigo. Prepara-te que vais ganhar um presentão meu. Eu vou pessoalmente mostrar-te a incrível base dos Touros Negros. - disse Magna, enquanto virava as costas para Asta e o avisou para segui-lo.

Agora a correr:

- Vem comigo nanico! - disse Magna.

- Ok, veterano quatro olhos! - respondeu Asta em um grito.

- É veterano Magna, palhaço. - disse Magna, não tendo gostado do apelido.

- Tudo bem veterano Magna Palhaço. - respondeu Asta novamente, alheio ao que Magna estava a querer dizer.

- Mas sem o palhaço! - Magna gritou.

Em cima do teto da base, um pássaro com um olhar cansado estava empoleirado.

Eles começaram a visitar cada canto da base:

- Aqui é o refeitório! - exclamou Magna empolgado, enquanto estava no grande refeitório com longas mesas e bancos de madeira clara, estando Charmi sentada a comer um bolo.

- E aí? É enorme. - disse Magna.

- Sim, é enorme mesmo! - Asta disse admirado.

Correndo para o próximo lugar, eles chegaram à zona espaçosa de tomar banho.

Água quente saía por uma cabeça de Touro para o que mais parecia ser uma piscina.

- O banho. - informou Magna enquanto relaxava na água.

- Hmm, está quente. - queixou-se Asta. A água estava a ferver, o que causava uma espécie de neblina.

- Esta quantidade de calor não é nada para os Touros Negros! Ah, que beleza. - disse Magna orgulhoso, a aproveitar o banho, ainda com os seus óculos na cara.

A olhar para o Asta: O que é que foi, já vais sair? - provocou Magna.

- N-não, ainda não! Eu não vou desistir! Ai ahhh- exclamou Asta com uma expressão dolorosamente cómica, claramente sem aguentar a temperatura da água. Ele ainda tinha a sua faixa na cabeça.

- Está quente. Eu quero pôr água gelada. Ficar nu é ótimo. - disse Gordon quase inaudivelmente.

- Ali ficam os quartos das meninas. - disse Magna apenas com uma toalha na cintura e o casaco no ombro.

- Se algum de nós for para lá, morre com as magias de emboscada. - continuou Magna com um sorriso, enquanto Asta olhava pasmado para o tanto de armadilhas que via, tirando os fios rosas quase impercetíveis que estavam dispostos em todo o corredor à frente.

- O quê!! - gritou Asta, incrédulo e surpreendido.

- E aqui... a casa de banho! - gritou Magna empolgado, enquanto abria uma porta..., mas arrependeu-se no mesmo instante.

- Vou vos matar! - disse Yami, sentado na sanita enquanto fumava um cigarro.

Chocados: Perdão!!!! - disseram os dois em uníssono enquanto corriam para longe o mais rápido possível.

A seguir, ouviram um barulho ensurdecedor.

- Uouahh!! - Asta expressou o seu espanto.

- Aqui fica a ala das feras!

Eles estavam em frente de uma jaula com animais grandes, envoltos na sombra. A ala era iluminada por uma vela roxa e as paredes eram rochas, parecia até uma caverna.

- O-O quê? - questionou Asta com uma gota de suor na têmpora a virar-se para Magna.

- É o hobby do Yami. - Magna disse com entusiasmo. - Asta! - disse ele, ajeitando os seus óculos.

- S-Sim? - Asta perguntou incerto.

Com uma mão no ombro do Asta e um sorriso característico: Vou colocar-te para trabalhar aqui a cuidar de todos os animais.

Asta - Hã?

- É um papel muito honroso. Eu não queria deixar para ti, mas vou. - disse Magna, a esconder as reais razões. Ao seu lado, atrás das grades, enquanto ele falava, as feras batiam contra as grades. - Eles precisam ser alimentadas duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Vai, experimenta.

- T-Tá... Prontinho, prontinho... Comam. - disse Asta, a tremer, enquanto aproximava um pedaço de carne segurada por um pegador de madeira em direção aos animais.

No momento seguinte, a cabeça de Asta estava dentro da boca da fera. Eles fugiram para longe de imediato.

- Ahhh. - Asta gritou assustado enquanto fugia.

- Hahahahah! - Magna ria-se divertido pelo o que aconteceu com Asta.

- Aqui é a biblioteca. - disse Magna.

- Sim! - gritou de empolgação, enquanto olhava para uma biblioteca, não enorme, mas razoavelmente grande, com grandes estantes com toneladas de livros.

- A sala de jogos. Dá para nos divertirmos um monte aqui! - Magna disse com um sorriso cheio a apontar para a sala com a mão por cima do ombro.

-H-Hã?! - Asta parecia confuso. Para ele aquilo parecia uma sala de tortura: havia algemas penduradas na parede e coleiras metálicas penduradas no teto, no mesmo canto; uma roda grande cheia de espinhos; e uma espécie de tábuas com espinhos inclinadas, presas à parede por correntes, e tinha espinhos grandes debaixo delas. Também havia uma mesa de madeira perto das correntes e coleiras de ferro.

De novo a correr empolgados, eles riam-se:

- Hahahahaha hahahahaha!! - riam-se os dois ao mesmo tempo enquanto corriam a balançar os braços pela base.

- Bora, acompanha-me! - disse Magna.

- Espera aí! - disse Asta, com o mesmo entusiasmo, um pouco atrás de Magna. Até que ele bateu contra Magna, que parou de repente.

Asta - Hã, Magna?

- Um manto dos Touros Negros. Então...

- Ei, Asta. Ela é tua colega e da Azuli. É a outra recruta deste ano. - informou Magna.

Eles estavam a falar da menina de cabelos prateados que ia em direção a eles. O seu cabelo é dividido em dois rabos de cavalo, um em cada lado do alto da cabeça.

- Hã, minha colega? Curti disso! - disse ele a Magna.

- Oi, eu sou o Asta, de Hage! Vamos fazer o nosso melhor juntos! Nós temos outra colega para além de nós dois, mas ela saiu para algum lugar.- apresentou-se Asta com estrelas nos olhos e a oferecer um aperto de mão à menina. - É um prazer conhecer-te!

Com um estranho olhar, a menina respondeu: Eu não te dei permissão para me dirigir a palavra. - disse ela, depois de bater na mão esticada de Asta. - Eu nem sinto mana em ti, seu verme insolente. - continuou ela, com um olhar de nojo e superioridade.

- Verme?! - exclamou Asta, espantado pela forma que a menina o tratou.

- Insolente?! - questionou Magna, que inclinou a cabeça em dúvida.

Com um rosto sério, a menina apresentou-se, apontando para si: O meu nome é Noelle Silva. Eu faço parte da família real deste reino.

- O quê?!! - Asta surpreendeu-se com o que acabara de ouvir. A sua boca quase que caía no chão de tanto espanto. - F-F-Família real?!

Ajoelhado no chão com uma expressão assustada, Asta implorou por misericórdia: E-Eu imploro-lhe perdão. - disse Asta a fazer-lhe várias vénias. - Eu não passo de um inseto ridículo que será atirado para longe pela respiração de alguém...

- Contanto que te ponhas no teu lugar. - disse Noelle, com uma expressão serena mas séria.

- Espera. A quem tu estás a chamar de inseto, hein?! - berrou Asta, irritado enquanto fazia uma expressão engraçada. - Nós devíamos ser colegas Cavaleiros Mágicos! E daí que tu és da realeza!

- Mandaste bem, Asta! Diz-lhe que o status social não é nada! - Magna falou alto com os punhos cerrados ao nível do peito.

Ouvindo o que o Magna disse, Noelle falou simplesmente: Claro que é .

- Como é?! - disseram eles, irritados, agora de frente em pé para Noelle, que apenas suspirou.

- Palavras não bastam para tolos plebeus? Parece que terei de mostrar a diferença entre os nossos poderes mágicos. - disse ela, que começou a criar uma esfera de água brilhante, fazendo com que a sala brilhasse em azul. Eles afastaram-se um pouco, surpreendidos.

- Conheçam o vosso lugar. - e atirou a esfera brilhante de água em direção ao Asta.

- Não vou conseguir a tem-... - pensou Asta que via a esfera a aproximar-se perto dele.

No entanto... a esfera fez uma curva e acabou por atingir Magna em cheio, que bateu contra a parede e caiu no chão, encharcado.

- O quê? - Asta não entendeu o que aconteceu. A esfera estava a ir em sua direção, no entanto, ela bateu em Magna no último instante.

- Sua infeelizz! - disse Magna levantado. - Tu tens coragem, hein?! O que achas que estás a fazer com o teu veterano?! - Magna tinha os olhos cheios de veias visíveis e parecia irritado, ele tinha veias saltadas na testa.

- Tu estavas no lugar errado. Quem te deu permissão para ficares aí?- Noelle confrontou-o.

- Como é que é?! - Asta estava estupefato.

- Ora, sua... Eu sou o teu veterano! - Magna gritou, ainda irritado.

- E eu sou da realeza! - respondeu Noelle.

- O quê?! - Magna aproximou-se de Noelle, tirando os seus óculos: Eu não estou nem aí se tu és da realeza ou irmã do capitão dos Águias de Prata!

Asta - Hã?

- Só mesmo o Yami para aceitar uma pirralha como tu! Sê menos mal agradecida, sua idiota! - gritou Magna. - Eu segurei-me só porque tu és mulher, mas agora eu vou te pagar na mesma moeda, caramba!

Tendo o suficiente: Como se eu quisesse este esquadrão ridículo. - Noelle disse, após tirar o seu manto e atirá-lo para o chão. Ela foi embora de seguida.

- Maldita... Ei! O que achas que estás a fazer?! - perguntou Magna.

Com a cabeça virada em direção ao Magna: Quem se importa com os teus Touros Negros?! Eu não quero essa porcaria. Este é, disparado, o pior esquadrão de Cavaleiros Mágicos, e não é para alguém da realeza, como eu! - Noelle agora estava zangada..., e talvez frustrada.

- Miserável! Pede perdão para o manto e para o Yami! - Magna não aceitava o que acabou de acontecer. - Pede! Pede perdão! Pede perdão, ô, palhaça!

- O manto pelo qual eu trabalhei tanto para conquistar... E ela...

Enquanto isso...

- Falta muito? Nós já não devíamos ter chegado à base? Já são 8h00 da manhã, devemos ter perdido o pequeno almoço.

- Sendo sincera..., eu também não sei. Nós já devíamos ter chegado à base há algum tempo, mas parece que estamos a voar em círculos. - quem falava agora era a Vanessa.

Depois da sua ida frustrada ao café e de irem atrás do ladrão que roubou uma joia mágica, sem sucesso, elas decidiram voltar para a base, a tempo do pequeno almoço. Mas algo as parecia impedir. Parece que elas estavam a voar sem rumo, em círculos.

- Achas que estamos sob algum feitiço de ilusão? - Azuli perguntou a Vanessa. - Eu não consigo pensar em outra resposta senão essa.

- Hmm... É possível. - disse Vanessa.

Ambas começaram a concentrar-se nas suas habilidades sensoriais, à procura de qualquer pessoa nas redondezas.

- Eu não consigo sentir ninguém, mas estranhamente tenho a impressão de sentir alguém ou alguma coisa por aquele lado. - disse Azuli a apontar para baixo, para o local que o seu instinto lhe mostrou. Azuli estava a voar com a Vanessa na vassoura da colega, desde que ela não consegue voar em uma vassoura.

Vanessa olhou para a direção indicada. Era uma extensa floresta isolada, ela já tinha ouvido falar. A floresta isolada, também conhecida por Floresta Morta. Há uns anos atrás, a floresta era verdejante, repleta de árvores, plantas e lindas flores, rica tanto na fauna como na flora. Mas alguns anos para cá, ela começou a morrer. Agora, embora ainda haja relva, ela está morta e seca, e acontece o mesmo com as árvores, que agora eram só adornados por galhos secos. Folhas, flores, pinhas ou qualquer outra coisa era quase impossível de ver. Em suma, era uma visão deplorável.

Saindo dos seus pensamentos, Vanessa falou: Vamos verificar essa zona, então. Se isto é obra humana, iremos descobrir. - disse ela a piscar o olho direito e a sorrir.

Vanessa desceu para o chão, na sua vassoura com Azuli a reboque, para o local que a menina das madeixas rosas falou. Elas ficaram a olhar ao redor enquanto andavam pelas árvores mortas. Não havia muito por onde se esconder, mas definitivamente a causa delas não conseguirem ir embora, era a floresta, se não fosse, o que seria?

Quarenta minutos se passaram e elas ainda não tinham descoberto a causa, nem uma forma de sair da floresta. Azuli, apesar de ter estado pouco tempo a andar, sentia-se cansada.

-Ah, vamos ficar presas aqui para sempre?! - exclamou Azuli enquanto chutava uma pedrinha no chão, cansada, sem motivo aparente. - Nós verificámos cada canto desta floresta e não há um único ser vivo para além de nós e alguns insetos! Nós temos de sair daqui, eu ainda quero conhecer o outro novo recruta no nosso primeiro dia juntos nos Touros Negros!

- Eba, parece que alguém está ansioso para conhecer a nova recruta. - disse Vanessa com um sorriso brincalhão.

- A nova recruta? Pois então, é uma rapariga! Espero tornar-me amiga dela! - disse Azuli com brilhinhos nos olhos, ansiosa por fazer amizade com a sua nova colega. Agora próxima de Vanessa: Tu conhece-la, Vanessa? Como ela é?

- Isso eu já não sei responder-te, eu só a vi de longe. Quando ela chegou, o Yami só disse a todos que uma nova recruta tinha chegado à base.

- Ah, ainda assim eu estou ansiosa por fazer amizade com ela! - Azuli começou a tirar o seu grimório da bolsa e a ativá-lo. - Então, temos de sair logo daqui! - disse ela, decidida.

- Parece que usar os nossos poderes é a única saída que temos para ir embora. - disse Vanessa. também a ativar o seu grimório, que começou a brilhar em rosa, contagiada pela determinação de Azuli. - Agora, só temos de descobrir como.

Azuli e Vanessa estavam em uma colina alta e olhavam para o céu. A uma boa distância, elas podiam reparar que uma cúpula transparente cobria toda a floresta, mas parece que estava a falhar. Algumas falhas podiam ser vistas, como se fossem portais a abrir e a lutar para fechar.

- Estás a ver aquilo, Vanessa? Podemos usar aquelas falhas para nosso proveito e sair daqui.

- Sim, já que não conseguimos tocar e muito menos desfazer a cúpula desde que entrámos, parece que é a nossa única chance de sairmos daqui. - disse Vanessa com uma mão na cintura. - Mas como a vassoura se partiu naquela vez que caímos colina a baixo... ai... eu não sei como vamos chegar lá em cima. - disse Vanessa com um suspiro.

- Hm, controlo mágico não é a minha especialidade, mas sou capaz de tirar-nos desta floresta criando uma bolha de água mágica. - disse Azuli.

- Parece um plano, fofa. Mas... achas que vamos caber naquelas falhas com essas bolhas? - disse Vanessa a olhar para as fendas na cúpula. As fendas não pareciam muito grandes e estavam constantemente a tentar fechar-se.

- Oh, nesse caso é só atacá-las com o nosso poder mágico até que elas se expandam o suficiente para passarmos! - exclamou Azuli, com um punho cerrado na altura do peito e um sorriso confiante no rosto.

Vanessa olhava para a Azuli e concordou: Não percamos mais tempo então, mãos à obra!! -Vanessa exclamou com entusiasmo, apontando o dedo em direção às fendas.

Na base dos Touros Negros...

- Não encontrei a casa de banho, fiz do lado de fora mesmo... - disse Asta a andar do lado de fora da base.

- Hã? - neste momento Asta estava atónico. Uma bola de água maior que o Asta estava a cair sobre ele.

-Ahhhh! - gritou Asta, após quase ser atingido pela bola, que aterrou rente a ele, na sua frente.

- O quê? O quê? O quê? - Asta estava em transe, constantemente a repetir a mesma fala. O chão à sua frente parecia uma pequena cratera com uma pequena poça de água dentro.

Na tentativa de descobrir o que se passava, Asta espiou através dos arbustos. Ele pôde ver dezenas de pequenas crateras, iguais à que se formou na frente dele, perto da sua anterior nova colega de esquadrão. Noelle parecia cansada e a respirar com dificuldade. Mais uma vez, Noelle tentou acertar o alvo que estava pintado no tronco de uma árvore, mas falhou. Em vez de acertar no alvo, o pobre Asta voltou a ser vítima de mais um ataque, que o atirou para trás, não o acertando diretamente, felizmente.

- Por quê? Por que não vai na direção... - disse Noelle, frustrada, novamente a lançar o mesmo feitiço contra o alvo, mas falhando miseravelmente todas as vezes. - ...que eu quero?! - terminou de falar, a suar e apoiada com as mãos nos joelhos a respirar pesadamente.

Com os dentes cerrados entre as falas: Acho que eu... - antes de terminar de falar, Noelle recordava uma lembrança dolorosa:

"Parece que as caçulas da família Silva não conseguem nem controlar os seus próprios poderes mágicos. - comentara um nobre.

Quem diria que alguém assim nasceria na família real? - disse outro nobre, a falar com o anterior."

*******Outra lembrança:

- Que grimoriozinho mais singelo... Tu és mesmo da realeza? - um rapaz disse com um sorriso sádico.

- Eu não acredito que tu não controlas os teus poderes... Que ridículo. Sinto vergonha de seres a minha irmã. - disse uma mulher, agora sabido que é irmã de Noelle, com um sorriso sarcástico.

Neste momento, Noelle tinha os olhos a marejar.

*******Outra lembrança:

Eu não permitirei que alguém tão patético se aliste nos Águias de Prata. Por que não foste tu que morreste, em vez da nossa mãe? Sua falhada. - dissera Nozel Silva, friamente.

**************

- Eu não sou uma falhada! Eu vou fazê-los reconhecer o meu valor! E eu encontrarei a Naomi, seus idiotas! - gritou Noelle, a preparar e lançar várias vezes o mesmo ataque em direção ao alvo, falhando todas as vezes... ou quase todas. Após certas lembranças, ela focou-se mais no seu poder e foi capaz de acertar algumas vezes, mesmo sendo raro.

- Acho que ela também não tem vida fácil. - percebeu Asta enquanto a observava. O pássaro de aparência cansada estava ao lado dele, repousado em uma rocha, mas voou para longe após a fala de Asta.

Noelle percebeu a presença do Asta entre os arbustos. Quando o Asta percebeu que a Noelle o avistou, ele levantou-se e disse:

- Ei.- disse ele calmamente.

- Verme? - disse Noelle em um misto de assustada e espantada. - Há quanto tempo estás...

Vou ser feita de piada de novo! - pensou com medo.

- Eu... - Asta começou a falar.

Eu não permitirei que alguém tão patético se aliste nos Águias de Prata.

Eu não acredito que tu não controlas os teus poderes...

Que ridículo.

Tu és mesmo da realeza?

Novamente, as lembranças vieram à mente de Noelle, que começou a ficar assustada e com medo da reação do Asta. Ela estava com uma mão à frente do seu corpo, como se para se proteger de qualquer perigo.

- Hã. - expressou Asta. Ela não parece bem, parece... assustada.

- Não!! - Noelle gritou enquanto preparava um ataque contra Asta. - Hã? Ahhh! - Noelle foi engolida pelo seu próprio ataque.

Dentro da base...

- Hm? - Luck notou uma súbita quantidade de mana por perto.

- Já caguei... vou voltar para a cama. Hã? - Yami notou algo através da janela que lhe chamou à atenção. - Que porra é aquela?

Uma enorme esfera turbulenta com tentáculos de água a moverem-se livremente pelo pátio da base podia ser vista. Ela causava muito vento e fazia as folhas das árvores voarem para longe. Ela era um pouco maior que o Santuário do Dragão do Mar que Azuli fez na batalha contra o Magna.

- Ahhhh! - Asta corria loucamente a tentar fugir do tentáculo de água que a qualquer momento podia atingi-lo. O tentáculo era forte ao ponto de rachar e levantar a terra por onde passava.

Com toda esta confusão, os membros dos Touros Negros, curiosos como são, vieram para fora da base ver o que se passava.

- Que loucura. - disse Gordon quase inaudivelmente.

- Tem alguém com a magia descontrolada. - disse Gauche com a sua expressão habitual, quando não está com a sua irmã ou a pensar nela.

- Tanto poder... Temos que resolver isto. - disse Magna com suor na testa a ver aquele poder absurdo fora de controlo.

- Se atacarmos com magia, ela pode não sobreviver. - disse Yami, a fumar calmamente. - Tem como agarrá-la com a tua magia espacial?

- Não digas parvoíces. Eu não tenho como chegar perto daquilo. - respondeu Finral.

- Sei. Se pelo menos nós tivéssemos alguém capaz de anular poderes mágicos. - desejou Yami, com uma mão atrás da cabeça.

- Ahhh, não! - Asta tinha sido enviado a voar após ter sido atingido por um tentáculo.

- Chegou a voar na hora certa. - disse Yami a Asta, que tinha sido apanhado por Yami.

- Hã?

- Dá para cuidar daquilo ali? - perguntou Yami enquanto apontava para a bola de água gigante.

- Cuidar do quê? Certo! - disse Asta, entendendo o que Yami pediu. - Espera aí. Como eu vou chegar lá? Eu não consigo voar! - disse ele a olhar para Yami em dúvida.

- Fecha essa matraca. - disse Yami com uma aura e olhar assustadores. - Chegou a hora de ultrapassares os teus limites.

Com Azuli e Vanessa...

- Até que enfim, estamos quase a chegar em casa, não é Vanessa?

- A quem o dizes. Eu só quero esticar-me no sofá e beber o meu vinho. - respondeu Vanessa.

Azuli e Vanessa conseguiram atravessar a fenda com sucesso..., apenas com alguns percalços.

10 minutos atrás...

- Cá vou eu! - exclamou Azuli, após focar-se em controlar a sua magia adequadamente. Tu consegues Azuli, isto não é só por ti, tens de dar o dobro, não... um milhão de vezes mais de ti!

Com o seu grimório aberto com um brilho azul claro, azul escuro e branco, Azuli preparou-se para criar um mini Berço do Dragão do Mar, sem dragões.

Feito o mini berço, que tinha a forma de uma esfera brilhante normal, ambas as meninas estavam agora dentro dela, capazes de respirar dentro dela. Azuli começou a fazer o berço flutuar e voar.

- Ah, então é assim que se sente quando se está a flutuar dentro de uma bolha de água. A voz fica engraçada quando se fala e ouve. - admirou Vanessa divertida, enquanto olhava um pouco ao redor e punha uma mão na orla da bolha, curiosa para saber como se sentia.

- Sim, fico fascinada sempre que estou dentro de um destes feitiços. - admitiu Azuli, com um sorriso, ainda concentra em fazer subir o berço. - Sinto que estou em casa.

- É comum ficar deslumbrada, é o teu poder, é uma parte de ti. - Vanessa continuou, com um olhar distante: Por vezes, quando me quero distrair do mundo eu faço bonecas e outras coisas com os meus poderes. É muito reconfortante.

- Hã... Verdade. - disse Azuli, recordando-se de uma memória.

Olhando para cima, Azuli reparou que estavam quase no topo da cúpula, que ficava a uma altura muito distante da terra.

- Ah, estamos a chegar Vanessa! - exclamou Azuli.

- Que bom! - disse Vanessa feliz.

- Hã? - disseram as duas.

No mesmo momento, a bolha começou a voar em zig zag e em todas as direções, uma de cada vez. O mais estranho era que elas mudavam de um canto da floresta para outro. Podia até parecer normal, mas não era. Elas nem se lembravam de como tinham chegado lá, era como se fossem teletransportadas de um sítio para o outro. A bolha chegou a estourar uma vez, mas felizmente a Azuli conseguiu envolver ela e a Vanessa imediatamente em uma nova bolha.

- Ai, acho que estou tonta. - disse Vanessa.

- Ahh, nós estávamos tão perto! - exclamou Azuli, frustrada. - Vamos ter de voar o caminho todo de volta.

- Deixa comigo! - Vanessa disse enquanto puxava as pontas dos seus fios mágicos.

- Fios? - questionou Azuli. Eles atravessavam o berço que Azuli criou, mas não se via onde terminavam.

- Sim. Neste momento, o resto destes fios estão do lado de fora da cúpula e a aguentá-la aberta. - disse Vanessa com um sorriso.

- Vanessa, tu pensas em tudo! - disse Azuli com estrelinhas dos olhos.

- Ahah, pois sim. Uma boa cavaleira tem sempre um plano de reserva. - disse Vanessa com uma piscadela e um sorriso a acompanhar.

- Então e agora? É só seguir para onde os fios vão, não é?! - perguntou Azuli, pronta para começar a fazer a bolha voar em direção às fendas.

- Não exatamente. - disse Vanessa com uma expressão que prometia que estava a aprontar alguma coisa.

- Hm...? - Azuli não sabia o que esperar.

Dois gritos podiam ser ouvidos, ambos por razões diferentes:

- Ahhhhhhhh! - gritou Azuli de medo. A bolha estava a "voar" muito, muito rapidamente.

- Uhuhhhhh! - expressou Vanessa, divertida com a velocidade com que a bolha planava.

O plano da Vanessa era simples: ela e Azuli combinariam as suas habilidades e lançariam a bolha em alta velocidade, até ultrapassar a fenda. A única coisa que se tinha de fazer era combinar corretamente as suas magias para o berço não tratar os fios, que rodeavam a bolha, como um objeto desconhecido e destruí-los ou a própria bolha ser destruída pela força dos fios. O resto resumiu-se ao comando de Vanessa para os seus fios, que estavam presos nas bordas da fenda da cúpula, para que puxassem a bolha em sua direção. E claro, Azuli tinha que manter o controlo sobre a bolha para que não se desfizesse.

Dada a ordem de Vanessa, elas agora estavam lançadas em alta velocidade. Elas já ultrapassaram e muito a cúpula, e já mal eram capazes de ver a floresta morta.

Depois de um tempo elas começaram a cair.

Eu vou morrer. - pensou Azuli enquanto olhava para o chão que parecia cada vez mais próximo.

Contudo, o impacto nunca veio. Ela era suportada por imensos fios que formavam uma rede. Esses fios estavam presos às árvores próximas.

- Ufa, esta foi por pouco. -disse Vanessa calmamente.

- O quê? Nós quase morremos aqui?! - gritou Azuli, com os olhos brancos e a boca aberta em choque.

- Eheh, não te preocupes. Correu tudo como o planeado. - disse Vanessa, divertida, como se já fizesse aquilo todos os dias. Ela também estava em cima da rede.

- Como é que é?! - Azuli continuava atónica, especialmente ao ver a Vanessa tão calma e sorridente.

- Pensa pelo lado bom..., a base está logo em frente. - disse Vanessa, a apontar para uma estranha estrutura ao longe. Era a base dos Touros Negros.

Animada com a ideia de voltar à sua nova casa, Azuli saltou da rede e, animada, começou a andar a passos largos, que mais pareciam saltinhos de criança bobos.

- Estou ansiosa por chegar a casa e ficar um tempo no sossego, enfim! - exclamou Azuli.

- Espera, espera por mim, Azuli! - Vanessa exclamou, enquanto corria para alcançar a menina enérgica.

Atualidade...

- Eh? Mas o que se está a passar? - perguntou Azuli, que estava a olhar para uma esfera maciça de água com tentáculos de água a destruir tudo por onde passava.

- Deve ser a nova recruta, ela deve ter o mesmo elemento mágico que tu, Azuli. - disse Vanessa, a olhar para a mesma direção que Azuli.

- Ehhhhhh, desmoronou! - gritou Azuli. - Alguém está a cair dela.

Com o resto dos Touros Negros...

Yami lançou Asta em direção à magia descontrolada de Noelle. Após cortá-la e a desfeito, ambos começaram a cair em direção ao chão.

- Oh? Ahhhh! - Asta gritava enquanto caía.

O que foi que eu fiz?! Estou a cair! - pensou Noelle, a fechar os olhos para tentar não sentir tanta dor. Mas, de repente, ela sentiu um par de braços a apanhá-la ainda no ar e a pousar delicadamente no chão.

O quê? Quem é? Aquele menino não deve ter sido, ele também estava assustado. - pensou Noelle rapidamente, com os olhos ainda fechados e tapados com as mãos por receio de enfrentar quem quer que seja.

- Ahhhh! - outro grito foi ouvido. Era de Asta, que tinha acabado de cair no chão, após ter entrado no portal de Finral.

- Oi...? Já podes abrir os olhos, já estás segura. - disse uma voz.

Mana...?! - pensou Noelle, abrindo os olhos o mais rápido que pôde, com expetativa. Não, não é ela. - pensou, desanimada.

A mulher para quem Noelle estava a olhar era, na verdade, Azuli, que correu o mais rápido que pôde para chegar a tempo de apanhar a pessoa que estava a cair de uma altura tão alta.

Pondo Noelle no chão, Azuli apresentou-se a ela: Oi, eu sou a Azuli, do vilarejo Kai! É um prazer! - disse ela, com um entusiasmo pouco visto nas pessoas.

Noelle caiu de joelhos no chão com a cabeça baixa.

- Hm? - Azuli ficou confusa.

- É isso aí! Eu sobrevivi! - gritou Asta, levantado.

- Hahaha. - riu-se Yami.

- Foi divertido, não foi? - perguntou Luck.

- Obrigada pela magia espacial! - exclamou Asta em agradecimento a Finral.

- De nada! - respondeu Finral, com um olho fechado.

- Boa, pirralho. - Yami disse enquanto apontava para Asta com um dedo.

- Menina...? - disse Azuli.

- Ei, tu aí! - gritou Asta a dirigir-se à Noelle.

Sua falhada.

Eles vão gozar comigo de novo... - pensou Noelle, com lágrimas a ameaçarem sair dos olhos e os dentes cerrados, com medo, antecipando o que viria.

Asta parou ao lado esquerdo de Azuli, que continuava a olhar para a menina desconhecida para ela.

- Tu... És poderosa para caramba que eu nem te conto, hein? Aquilo foi demais! - Asta exclamou, impressionado.

- Hã? - expressou Noelle, agora com a cabeça um pouco levantada do chão. Ela começou a olhar para Asta.

- Eu não tenho uma gota sequer de poder, dá uma inveja do caramba! Se tu treinares para aprender a controlar os teus poderes, serás invencível, Noelle! - exclamou Asta para Noelle, com entusiasmo.

Com o elogio de Asta, Noelle ficou pasmada, ela não acreditava que alguém estava a elogiar os seus poderes. Os seus olhos brilhavam e um leve rubor rosa aqueceu as suas bochechas.

Noelle?! Será...? - Azuli estava repleta de incertezas, mas não era nada que não podia ser desvendado.

- Verme... Asta - corrigiu a platinada ao chamar por Asta.

- Eu vou continuar a trabalhar duro para não ficar para trás! - disse Asta.

- O quê? Então tu só não sabes controlar os teus poderes? Devias ter dito antes, sua realeza fracassada. - Magna aproximou-se ao falar, entendendo o que aconteceu no seu encontro anterior com a menina.

Com a fala de Magna, Noelle olhava para baixo.

- Nós somos os Touros Negros. Nós somos um bando de falhados! - com essa fala de Magna, Vanessa pegou no seu item mágico e colocou o manto em Noelle, enquanto tinha um sorriso sereno nos lábios.

Enquanto o manto deslizava em Noelle, Magna continuou a falar: Ninguém se importa se tu tens uma ou outra falha, idiota.

- Que bom que estás bem. Aliás, eu conheço um restaurante de mesas ótimo. Queres ir qualquer dia destes? - perguntou Finral, com uma olho fechado e uma expressão amigável.

- Mas antes, experimenta isto, tá? - disse Charmy, a apresentar um bolinho a Noelle.

- Eu não vi muito, mas foi incrível. - disse Vanessa com um sorriso e uma mão no rosto, ainda com a sua pequena varinha castanha na mão. - Se tem uma coisa em que eu sou boa, é em controlar poderes mágicos. Eu vou ajudar-te. E vou mostrar-te uns truques femininos também. - disse Vanessa, na última fala com um olho fechado.

- Eu vou contar-te sobre a minha irmã Marie. Ela é um anjo. - disse Gauche.

- Vamos ser amigos. - disse Gordon, quase inaudivelmente.

Grey apenas soltou fumaça pela boca.

Com os comentários dos Touros Negros, Noelle ficou com os olhos marejados.

- Vem. - disseram Asta e Azuli, cada um a estender uma mão com um sorriso caloroso, e o sol atrás deles.

- Vamos superar tudo isto. Juntos. - disse Azuli.

- Vamos fazer o nosso melhor. Juntos - disse Asta.

Ao fundo, era possível ver um arco-íris causado pela grande quantidade de água que Noelle criou e pela luz do sol.

Pegando em cada uma das mãos estendidas de Azuli e Asta, Noelle finalmente aceitou: Será um prazer trabalhar com todos vocês. - disse Noelle, levantando-se com ajuda dos seus dois novos colegas recrutas.

Enfim... enfim voltámos a encontrar-nos, irmã.


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