39#A gêmea da Guerreira Dragão do Mar
Capítulo 39 - Estaca zero
O Quartel General... Cavaleiros mágicos iam e vinham a toda a hora, magos habilidosos protegiam o local 24h por dia, era de se imaginar que uma nova comoção se fizesse perceber. O vento a ser cortado dezenas de vezes por vassouras em uma velocidade atroz, o som de passos apressados que estremeciam o chão soavam em direção ao caos. O som estremecedor alarmante alastrava-se pelo Quartel General, mas a prioridade não era procurar a causa do ocorrido... Não para todos.
Uma imensa porta e as grandes janelas da sala foram abertas rapidamente, varinhas estavam a postos nas mãos nos magos, os guardas do quartel general.
- O escritório está vazio! - um mago gritou, ecoando para além das janelas.
- Equipa 2! Departamento de ferramentas mágicas! - comandou a líder ao grupo de vinte magos.
- Sim! - e assim o grupo se dividiu, os cinco magos da equipa 2 atravessando um portal feito pelo colega.
- Equipa 3! Ala de enfermaria! - comandou ela, sem perder tempo.
- Sim! - novamente, 5 magos separaram-se e dirigiram-se ao seu destino, passando pela porta do escritório.
- Equipa 4! Campo de treino e jardim! - comandou ela.
- Sim! - 5 magos voaram pela janela, vassouras não eram necessárias.
- Equipa 1! Sigam-me até à masmorra! - o grito de comando e os gritos de entendimento dos magos ecoaram pela região.
- Parece que o alarme soou! Os guardas podem deter-nos também por precaução, tomem cuidado! - exclamou Klaus, olhando brevemente para a torre à sua frente, enquanto corria até ela, a causa do estrondo que estremeceu o quartel general, que havia tido prédios e torres desmoronadas. A sua voz era apagada pelo barulho que tomou conta da região.
- O Asta devia estar naquela torre também! É onde fica a masmorra subterrânea! - gritou Mimosa, que acompanhava Klaus na corrida .
- Ele sabe cuidar de si. - lembrou Yuno, correndo junto aos companheiros. O seu olhar focava somente na torre, que cada vez mais aumentava, eles estavam a aproximar-se.
- Eu podia levar-vos diretamente àquela torrezinha sem estes atalhos todos! - gritou Bell, voando plenamente acima do ombro de Yuno.
- No quartel general, quem dá as ordens em momentos de caos são os magos que protegem este local. Cavaleiros mágicos como nós não têm autoridade aqui! Não podemos arriscar sermos vistos! - esclareceu Klaus, sem parar de correr, mas ajeitando os seus óculos rapidamente, antes de ir mais para a sombra.
- Pft! - Belle bufou, sem perder o ritmo. E eu sou um espírito sagrado! O meu Yuno devia passar por eles sem medo! - pensou Bell, as bochechas estufadas rosadas.
Não muito longe...
- A procura pelo Benjamin vai ter que esperar. - disse Leopoldo, olhando para o quartel general acima de um prédio alto. - O quartel está sob ataque! - disse ele, o seu olhar lembrava chamas a arder entre faíscas enquanto olhava uma torre desmoronar ao longe.
- Deve ser o Olho do Sol da Meia Noite! Eles são os únicos que eu conheço que atacariam o local onde o Rei Mago e os Capitães estariam todos juntos. - disse Noelle, pousando ao lado de Leopoldo no telhado.
Com um salto, Azuli atravessou um telhado para o outro, apoiando as mãos nos joelhos ao pousar, enquanto recuperava o fôlego.
- Mas tu devias procurar um lugar seguro enquanto nós vamos verificar o quartel general. - disse Noelle, apoiando Azuli para mantê-la de pé.
- Azuli, o doutor Owen falou que não devias fazer esforços por ora. Enquanto o teu corpo não se recuperar por completo, a tua mana nunca será o suficiente para te sustentar se ela for direcionada para reforçar a tua aptidão física. - Leopoldo colocou a mão sobre o ombro de Azuli, antes de a segurar mais firmemente quando sentiu a respiração de Azuli faltar por vezes.
Após um suspiro, Azuli olhava cegamente para o chão. A sua mente não estava focada no seu arredor.
- Eu sei... Eu sinto isso... - confessou Azuli, entristecendo os dois jovens que a apoiavam para mantê-la composta.
A paixão pela batalha, por proteger todos ao redor sempre vinham à mente de Noelle e Leopoldo durante a exata época em que ambos sofriam pelo passado, um passado que decidiram honrar, mas a desolação acompanhavam-nos a cada sorriso... Isso até colocarem a vista na menina que exalou uma confiança e uma determinação inigualável frente a quem fosse, Azuli... Foi em quem viram essas qualidades. Mas agora... Agora eles conheciam o outro lado da Azuli, na verdade a sua irmã e prima, Naomi, uma animada menina corajosa e determinada que vivia pelo seu sonho, mas também que convivia com o que assombrava o seu desejo de se tornar a Guardiã de Clover, a frequente queda de mana desproporcional. A Cristalização de Mana era incompreendida pelos três jovens, nada podiam fazer para a contornar até ao momento. O físico da jovem era afetado em momentos críticos, quando ocorria a regularização de mana da menina, e quanto a isso eles não podiam fazer nada para ajudá-la, apenas uma solução era valha, o descanso, o repouso.
- Mana, Leo... No quartel general estão muitos magos a proteger todos, bem como os nossos amigos, os capitães e o próprio Rei Mago... É quase certo que não seja necessária a nossa ajuda. - disse Noelle, o tremor do seu sorriso desmascarava a sua falsidade por trás da boa intenção.
Vendo o olhar que Noelle lhe dirigiu, Leopoldo fez o seu papel.
- Vamos a andar. - disse Leopoldo, ignorando qualquer reação adversa de Azuli após tê-la pegado nos braços. - Noelle. - chamou Leopoldo, preparando-se para saltar do prédio.
- Vou atrás de vocês. - avisou Noelle, ao andar até à borda do prédio e seguir após o salto de Leopoldo.
- Cavaleiros mágicos...
Ao som do pouso no chão, os três cavaleiros mágicos olharam ao redor, procurando a voz que os chamou.
- Eu não fui a única que ouviu, vocês também, não é? - perguntou Azuli, olhando para onde haviam saltado.
- A voz parecia ter vindo detrás de nós, mas não vejo ninguém. - disse Noelle, olhando ao redor cautelosamente, a sua mão deslizando lentamente para o bolso do vestido até a varinha.
- Podemos estar todos loucos simultaneamente. - comentou Leopoldo, que ignorou os olhares que recebeu das primas.
Quantas vezes nos cruzaremos sem que te continues a aperceber da minha presença... - este pensamento solto passou pela cabeça do homem que olhava para a jovem nos braços do adolescente ruivo.
Entrar em uma batalha neste momento não é o ideal. - pensou Leopoldo, olhando para as meninas atentas. - A Naomi está fora de questão, e a Noelle ainda sofre sequelas de batalhas anteriores à de ontem... Um inimigo indetectável é algo que não precisamos agora.
- Noelle...
- O que foi? - perguntou Noelle, antes de se virar e olhar para o primo atentamente.
- Vamos andando. - disse ele, fazendo Noelle prestar atenção às suas palavras e ao seu comportamento cauteloso. - O vosso colega, o Finral, deverá ir ter com o vosso capitão ao quartel general, deviam aproveitar e apanhar boleia com eles. - disse ele, andando calmamente em direção ao quartel general em meio à rua deserta.
O comportamento dele está fora do comum dele. - pensou Noelle, andando silenciosamente pouco atrás de Leopoldo. - É certo que não estamos prontas para entrar em uma grande batalha ainda, e o Leo não pode lutar em plenas habilidades contra um inimigo com o peso de nos proteger nas costas. Eu ainda sou capaz de lançar feitiços, a minha condição física ainda me permite fazer isso, mas um inimigo que não dá a cara... Isso não é só uma questão de sermos fortes ou não. Mesmo aquela habilidade não seria suficiente...
Noelle e Leopoldo andavam calmamente pela rua em silêncio, ninguém pronunciava uma palavra, até que a paciência estourou em um dos jovens.
- Esta tensão toda não faz sentido nenhum. - disse Azuli, lutando para andar pelos próprios pés.
- Estava tudo perfeito, o ambiente estava bastante confortável até uma linguaruda estragar tudo. - brincou Leopoldo, colocando Azuli no chão.
- Aquilo estava para além de desconfortável. - Azuli apressou o passo e virou-se para os amigos sem parar de caminhar. - Aquela voz nem um "olá" se designou a dizer! Nunca vi ninguém tão sem educação! - disse ela, alto o suficiente para ecoar por todo o arredor. Quem estivesse por perto, sem duvida ouviria.
- Eu mantenho a minha teoria: estávamos todos passados da cabeça por todas as missões nos últimos tempos. Elas têm sido puxadas, dignas do futuro Rei Mago, eu! Ahahahahah! - gabou-se Leopoldo.
- Desde o início, não são muitas as missões que nós as duas escapamos sem ficarmos inconscientes ou enroladas em imensas ataduras. É raro lembrar-me de uma missão por completo. - confessou Noelle, a sua postura mais relaxada.
- Isso deve-se ao facto que nós somos excepcionais em batalhas contra inimigos super poderosos! Sinto que o meu poder evoluiu bastante nestes meses em que sou uma Touro Negro! - exclamou ela, alegre, parando e caminhando lado a lado com os amigos novamente. Esticando o corpo, Azuli respirou fundo, o alívio depois de toda a batalha de ontem a chegar nela.
Os três continuaram o seu caminho, cada um com os seus pensamentos. Azuli saltitava de pedra em pedra da calçada, a energia não era o mesmo que o costume, mas a diversão estava estampada no olhar. Enquanto rodopiava e saltava, os pensamentos de Azuli vieram à tona.
- Alguma vez sentiram que estão a ser observados? - a voz de Azuli passou pelos ouvidos dos dois jovens, que se recompuseram do choque momentâneo antes de dar o passo seguinte.
O mesmo KI tem nos seguido desde que ouvimos a voz do telhado... Há a possibilidade de ser um inimigo, mas não sei decifrar as estranhas sensações que sinto dele. - Azuli continuou o seu caminho alegremente, mas a sua mente era preenchida por diversos pensamentos. - Ai... Mais uma habilidade que terei que trabalhar! As coisas estão a compor-se... - pensou ela, um sorriso a brotar no rosto e a sua mão tocando no seu mais recente broche acima do peito.
- A menina não é tão cega afinal. - a voz surgiu, uma madeixa de cabelo de Azuli pareceu sair para fora do capuz sozinha antes do chão chamuscado ter sido apagado pela esfera de água e rachar, obrigando os pássaros próximos voarem para longe do estrondo.
- Onde estás?! - gritou Leopoldo, rodeando os três com o seu fogo ardente. Se algo passasse pelo fogo, ele veria.
A voz não respondeu, mas...
- Ele ainda está aqui, mesmo na nossa frente. - o olhar de Azuli mantinha-se estático em um ponto específico.
Como esperado... - o pensamento passou pelo ser que trocava olhares com Azuli.
- Por que nos seguiste até aqui? O que queres de nós? - perguntou Noelle, a varinha e o grimório a postos.
Ambos, Noelle e Leopoldo, olhavam para o mesmo lugar que Azuli. Nada fora do normal era avistado, tudo o que viam eram edifícios, a calçada, algumas folhas sendo levadas pelo vento, mas nenhum ser humano à vista. Porém, a voz era real, a voz e o toque no cabelo de Azuli.
No Quartel General...
A poeira havia se assentado, das paredes e do teto ainda caíam pequenos destroços, esse era o único som para além de fracas respirações. Nove figuras estavam especadas a ver o estado da masmorra, a destruição emendava-se, mas o que viam aos seus pés fazia sentimentos conflituosos surgirem no seu interior.
Sem perder mais um segundo, passos apressados correram a pequena distância enquanto os brilhos de ambos os grimórios iluminavam a sala. Pedregulhos voaram do lugar.
- Árvore do Mundo: Esfera da Efemeridade da Vida. - raízes cresceram envolta dos espectros, formando uma árvore com a frente aberta onde uma esfera verde translúcida se formava no centro.
- O que lhes aconteceu? - perguntou Charlotte, andando lentamente através dos destroços até aos colegas capitães. O seu olhar estava preso na causa do seu estupor. - Como pôde ele permitir ficar... desse jeito? - perguntou ela, a suas palavras saíam com esforço mas a voz mantinha a força, apesar do inacreditável estar à sua frente. O seu rosto contraía-se, mas apesar disso, as suas emoções verdadeiras foram oprimidas, não passando para o exterior.
- O inimigo deve possuir um poder sorrateiro. - comentou Gueldre, olhando o estado dos dois em repouso nas esferas das árvores.
- Isto é tenebroso! - exclamou Rill, um misto de surpresa e horror estampado no seu rosto, enquanto a sua mão com um pincel ia para a frente da boca em choque, sem a tapar.
- O inimigo não estava para brincadeiras, estava? - Nozel questionou retoricamente, ao observar a autoridade máxima dos cavaleiros mágicos dentro da esfera verde da árvore, antes de andar até William e Yami. Dorothy seguia atrás dele.
- Parte dos corpos deles estão a faltar... - Fuegoleon avançou até estar ao lado de William, que olhava Julius, o seu mentor. - Eles estão vivos?
- O diagnóstico não é esclarecedor... - confessou William, após um breve silêncio. - Ao contrário do que os olhos querem que acreditemos, os seus corpos estão inteiros. Não existem feridas nem sangramentos.
- Eles estão inteiros... - fumo do cigarro acabado de acender pairava pelo ar. - E vivos... também, não é? - perguntou ele, a sua voz revelando exatamente os pensamentos sombrios que o atormentavam.
William não respondeu imediatamente, a resposta que Yami queria, a resposta que William queria...
- A minha magia está a reverter o feitiço que os influencia ao mesmo tempo que mantém as suas formas estáveis... Só o que podemos fazer... é esperar que a energia vital das árvores possam encontrar o caminho nos seus corpos e recuperar as suas energias vitais. Depois... não há como saber o que acontecerá.
O silêncio foi a resposta a esta informação.
- Quem fez isto concluiu o seu propósito... - falou Jack, que olhava a outra extremidade da sala. - Os prisioneiros que Marx esteve a interrogar não estão mais aqui.
Com essa notícia, os capitães mantiveram a compostura, os seus pensamentos guardavam para si.
Julius estar indefeso fazia a sua cabeça girar com uma dor latejante, mas um pormenor havia escapado a Yami.
Asta! - pensou Yami, o seu olhar arregalado com a lembrança do aviso que Asta estaria aqui a ajudar com o interrogatório.
Com Azuli e os demais...
- Eu não sou má pessoa. - uma voz zombeteira disse. - E para provar isso, irei oferecer-vos um pequeno presente, símbolo da nossa cumplicidade.
- Tsc... Nada de jeito sai da tua boca! Não confiaremos em alguém suspeito que nem mesmo nos aparece à frente! - exclamou Leopoldo, estressado, enquanto mantinha as suas chamas em volta de si e das meninas.
- Hostilidade desnecessária... Que decepção. - a voz zombeteira insultou o ruivo antes de, suavemente, suspirar dramaticamente por longos segundos.
Este homem só está a meter conversa fiada, o tempo parece não ser um problema para ele. Poderá mesmo ser ele o autor do ataque ao quartel general? - questionou Noelle, duvidosa. Ela não era capaz de ler o KI nem a mana do dono da voz, ela não imaginava o que poderia fazer nestes casos.
- Ei, ei... És algum inimigo, Voz Vazia? - perguntou Azuli, as suas dúvidas a vir ao de cima com a honestidade que sentiu nas palavras do homem.
Inocência ou ignorância... Seja qual dos dois ela evoque, a sua guarda sempre permanece. - notou o homem, observando a menina em silêncio.
- Não tenho tempo a perder. - o fogo ao redor dos jovens desapareceu. Leopoldo e Noelle não estavam à vista em meio ao breu. - Usa isso nos dois homens caídos na masmorra. Eles devem estar a precisar delas de volta. - disse o homem, a sua figura apenas uma sombra contornada no meio da luz negra como o céu da noite.
Acima de Azuli, desciam dois esquisitos brilhos, parecia ser mana pura com vida própria. Sobre as mãos estendidas da menina, uma esfera foi criada ao redor das duas manas, contendo os seus movimentos.
- Isto são assombrações? O que é suposto fazer com isto, matar alguém de susto? - perguntou Azuli, suspeitando das manas nas esferas. Elas parecem mexer-se por vontade própria. - pensou ela, vendo o ponto brilhante em cada esfera mexer, influenciando a cor da dita mana conforme a distância do ponto brilhante.
Olhando brevemente para Azuli, a sombra falou.
- Eu disse o que tinha a falar. Boa sorte, pequena princesa. - a sombra desapareceu, confundindo a visão nublada de Azuli, que olhava para onde havia estado a sombra que lhe sorriu momentaneamente enquanto entregava um presente em mãos à menina estática.
- Onde?! Maldito! Ele fez o que quis! - reclamou Leopoldo, impotente perante toda a situação.
- Hum? Ele desapareceu em menos de um segundo! - comentou Noelle, pasma, olhando ao redor enquanto se aproximava novamente de Azuli, que tinha as mãos sobre o peito.
As vozes dos seus amigos despertaram Azuli do seu transe, o presente que recebeu foi guardado na capa instantaneamente. Colocando o capuz novamente, uma pequena sombra sombreou os seus olhos, protegendo-os da luz brilhante dos raios de sol que os faziam arder após o tempo no breu criado pelo homem misterioso.
- Pessoal, temos que ir rapidamente para o quartel general, precisam da nossa ajuda. - disse Azuli, o seu olhar sem a alegria do costume, um olhar sóbrio no seu lugar. As pequenas esferas à vista de todos.
Naomi sempre foi de dizer coisas ao acaso, umas vezes tolas, outras envolvendo assuntos que pareciam adivinhar o futuro. Eles não estranhavam esse comportamento. Era comum. Era a Naomi na sua frente.
Acenando em compreensão, Leopoldo criou um leão de fogo.
- Subam! - exclamou ele, o entusiasmo voltando a mil. - O que quer que seja, encontraremos uma solução!