33#A gêmea da Guerreira Dragão do Mar
Capítulo 33 - Para o bem de alguém
Azuli, Noelle e Asta deram a sua palavra. Diante do monstro de lama e da cientista com o olhar psicopata, os três seriam o escudo das crianças e da irmã Theresa.
Partes do monstro eram cortadas, outras atravessadas, mas tudo recompunha-se ao estado original.
Espantoso, espantoso!! Ahahahah! A magia dela é tão intrigante como o mestre contou!! - Sally observava de longe os ataques de água de Azuli, que saltava constantemente em direção ao monstro e o cortava vez após outra. - Este monte de lama não devia ser um desafio para ela, mas ela não parece se aperceber. Azuli... não és tão experiente, mas eu cuidarei muito bem de ti!!!
- Atrás de ti, Azuli! - gritou Noelle, alarmada, enquanto lançava esferas de água para o monstro, contendo os seus movimentos.
Com a espada de água pronta para cortar novamente, Azuli gritou: Serei o escudo do reino! Até lá... Eu não morrerei!! - o braço de lama regrediu e explodiu ao toque da lâmina da espada de Azuli. Mas, com a lama a tapar a vista, Azuli não viu o braço a regenerar-se.
- Azuli!! À tua esquerda!! - gritou Theresa.
Um chute levou Azuli para fora do perigo.
- Vê se não morres depois de gritar coisas idiotas!
- Guache! Não voltes a fugir! Nós ficámos um farrapo há pouco!! - pediu Azuli, a olhar para Gauche, com os olhos em branco.
- Cala a boca! - Gauche chutou Azuli da vassoura. - Eu não fugi, apenas estava a levar a Marie para um lugar seguro. - disse ele, enquanto voava.
- Finalmente voltaste, idiota. - disse Theresa, mais para si do que para qualquer outra pessoa, enquanto as crianças fugiam no Leopardo de Fogo.
- Gauche! - Asta acenava para Gauche com estrelas nos olhos. - Por que fugiste daquela maneira?!
- Eu não fugi!! - gritou Gauche.
- Nós estávamos a ir perfeitamente bem! Mas aceitamos a tua ajuda. - disse Noelle, com uma mão na cintura e outra a baixar a sua varinha.
- Não adianta nada te juntares a eles!!! - exclamou Sally, divertida, antes de cair para dentro da salamandra que criou em instantes.
- Serei o teu oponente sozinho! - gritou Gauche, que voava velozmente até Sally. Um espelho já havia sido criado à sua frente. - Eu lutarei pelo amor da Marie!! Assim ela vai dizer que eu sou um irmão querido!! Duplo Real! - dois Gauches voavam lado a lado. E, em um instante, vários espelhos apareceram ao redor da caverna, refletindo os raios entre eles. - Reflexo Duplo!! - gritaram ambos.
Dezenas de raios desprendiam os membros do monstro de lama, fazendo-o perder o equilíbrio, porém todos os raios que entravam pela salamandra eram desviados, protegendo Sally de danos.
- Que maneiro!!! - elogiaram Azuli e Asta, ao ver o espetáculo de raios, estrelinhas e estrelas decoravam os olhos deles, respetivamente.
Nós temos feito exatamente o mesmo... - Noelle olhava para a animação de Azuli e Asta. - Mas não surte efeito duradouro.
Este monstro... - Gauche olhava os prejuízos que havia causado ao monstro. - Do nada, mana borbulha dentro dele e ele se regenera no próximo instante. - ambos os Gauches voaram entre os dedos do monstro, para escapar do golpe. - Com estes ataques, não conseguirei acabar com ele!! A minha magia não funciona contra aquela rapariga... Eu não era tão incompatível com uma magia desde o capitão... Será que está na hora de eu usar a minha carta na manga? - Gauche questionou-se, com a mão sobre o olho esquerdo. Não! Não importa o quão forte fique a minha magia, não servirá!
Em meio aos pensamentos, um golpe certeiro atirou ambos os Gauches para o chão.
Tsc... Realmente, eu não devia ter voltado... - pensou Gauche. Acima de si, uma mão lamacenta sobrevoava-o. Mas tudo passou em questão de segundos. Respingos de água foi tudo o que tocou em Gauche. O monstro de lama, para além de perder o braço, foi lançado para trás, deixando um rasto de lama pelo caminho enquanto se desfazia.
- Pensei que tinhas vindo ajudar, então por que estás aí sozinho?! Nós somos companheiros, não somos?! - gritou Asta, de costas para Gauche com a espada a postos.
- Como é que lutamos juntos se tu estiveres morto?! - gritou Azuli, olhando para Gauche. - É o seguinte... Eu protejo-te e tu proteges-me! - Azuli apontou para Gauche e depois para si enquanto gritava.
- É assim que nós vamos conseguir lutar infinitamente!! - gritou Asta, fazendo Noelle olhara para ele.
- Tu escutas o que falas? - perguntou Noelle, curiosa.
Espero não ter que lutar infinitamente contra alguém. Muito menos com a ajuda de um companheiro! Devia ser mais fácil com ajuda. - pensou Noelle, enquanto repensava algumas coisas que se mantinham na sua mente.
- É uma estratégia infalível, pessoal! - exclamou Azuli, convicta, antes de voltar a correr até ao monstro.
- Aí vai outro! - gritou Asta, com a espada na mão, enquanto acompanhava Azuli e ia em direção ao monstro.
- Idiotas. - chamou Noelle aos dois colegas empolgados, antes de olhar momentaneamente para Gauche. - Eu não ficarei para trás! - Noelle correu até ao monstro também.
Entre um riso silencioso, Gauche sorria.
- Que estratégia ridícula é essa? - perguntou Gauche, a si mesmo, a franja a tapar o olhar. - Eles são mesmo uns idiotas.
Pensando bem... Aquele homem também era um idiota. - pensou Gauche, a mexer nas suas memórias.
Alguns anos atrás...
- Então... Tu ainda queres lutar? Agora, não dá mais para fugir. - um homem falava em frente a um Gauche cansado.
- A minha irmãzinha... está à minha espera! - disse Gauche, ajoelhado. Coberto de arranhões e roupa às riscas, característica da prisões de Clover, ele mantinha o seu grimório aberto á sua frente.
- Ah, é? - perguntou o homem. - Bem... Se a tua irmã é tão importante para ti, junta-te ao meu esquadrão e cuida da tua irmã.
- O quê? O que estás a dizer?! Eu sou um prisioneiro foragido!!
- E daí? O que isso tem a ver? - perguntou o homem, desinteressado.
- E daí que eu não confio em ninguém. A minha irmã é a única que me importa. - disse ele, em pé.
- Tudo bem. - respondeu o homem.
Em cima de um escombro da antiga prisão, a silhueta do homem era visível no meio da névoa atrás do brilho da lua que batia em si. O brilho da lâmina que segurava refletia o olhar cauteloso de Gauche, enquanto o homem expelia fumaça do cigarro que tinha na mão, fazendo um só com a névoa.
- Tu proteges o que quiseres proteger e, algum dia, isso ajudará alguém. - terminou o homem.
Fim da memória...
Capitão... Tu sabias que isto ia acontecer um dia? - perguntou Gauche, interiormente.
- Vovó, quantas crianças ainda faltam? - perguntou Azuli, a sua voz perdida entre grunhidos do monstro.
- Não faltam muitas. Basta duas viagens, calculo eu. - respondeu Theresa, enquanto o Leopardo levava algumas crianças.
- Não tem jeito... - Guache levantou-se, a atenção foi voltada para ele após ele lançar um raio para o monstro. - Se vocês morrerem, a Marie vai ficar triste, então... Eu protejo-vos!
- Hã? O Gauche? - Theresa olhava para Gauche, estupefata.
- Por que estás a falar como se fosses o fortão?! Isso é óbvio, somos companheiros!! - gritou Asta para Gauche.
- Maldito anão gritão, toma cuidado como falas com os teus superiores!!
- Ahh! - gritou Asta, livrando-se de ser atingido por um golpe.
- Essa foi por pouco. - comentou Azuli, a olhar para o objeto perto de Asta.
- Já podes abrir os olhos, Astúpido. - avisou Noelle.
- Ei, por que me tratas assim, Elle?! - perguntou Asta, antes de olhar para o brilho roxo abaixo dos seus olhos. - Esta é a espada que encontrei na masmorra. - notou Asta, embora o estranho brilho.
Com a espada em mãos, Asta virou-se para o monstro, cortando o ar com a espada, pela qual saiu um poderoso corte de mana.
- Aí está!! - gritou Asta, após atacar.
O corte foi o suficiente para separar a parte superior do monstro do corpo. Embora surpreendente tenha sido o ataque, o monstro regenerou-se em segundos.
- Nem com isso?!! - gritou Asta, pasmo.
Com a cabeça de fora da salamandra, Sally resolveu mostrar-se.
- Uauu!! O que foi isso?! O que foi isso?! Um corte de antimagia?! Como é que o disparaste?! Como?! - Sally corava fervorosamente pela novidade mágica que presenciara.
Suponho que a única forma de acabar com aquele monstro é golpeá-lo várias vezes simultaneamente para que não tenha tempo de regenerar-se. O ataque mais eficiente até agora foi o que o Asta acabou de golpear, mas ele não pode fazê-lo vezes o suficiente... A mobilidade do monstro também se está a tornar um problema. - Gauche analisava a situação em que se encontravam. - Eu sempre usei a minha magia para criar clones de mim mesmo, mas... O que aconteceria se eu a usasse em outras pessoas? - questionou-se Gauche.
Gauche, por sempre optar por permanecer sozinho e não confiar nas outras pessoas, nunca pensou em utilizar a sua magia para auxilio das outras pessoas. Mas, com os erros, ele reconheceu os seus colegas: Azuli, Noelle e Asta. E, rapidamente, a teoria que visualizou começou a ser implantada. E o resultado disso... Ele criou uma magia fundamentalmente similar, mas completamente diferente... E assim, uma nova página foi escrita no seu grimório.
Sob o brilho lilás do seu grimório, Gauche lia o seu feitiço mentalmente.
Mas, este feitiço... Não posso ativá-lo com a mana que tenho agora!! - pensou ele, com os olhos arregalados.
- Ei, velha! - gritou Gauche, olhando para trás. - Preciso que me ganhes um pouco de tempo!
No segundo seguinte, Theresa já estava a atacar o monstro.
- Honestamente! Tu levas as anciãs ao limite! Só durarei um minuto, então sê rápido!! - gritou ela.
- Velha estúpida! Que magia refinada o quê! Isso não muda o facto de que é fraca!! - falou Sally, para si mesma, chateada.
- Se eu fosse a ti, abriria bem os olhos, jovem! - gritou Theresa a Sally, a quem dirigiu uma cortina de fogo, que dividiu o monstro ao meio e derreteu metade da salamandra em que Sally se resguardava.
- Atenção, Asta! - avisou Azuli.
Asta desviou do golpe do monstro a tempo.
Não tem jeito... - Gauche colocou a mão sobre a franja do lado esquerdo. - Eu mantive-o escondido, mas... Terei que usá-lo.
- Asta! Meninas! - Gauche chamou a atenção dos companheiros. - Olhem para mim.
Usarei a magia acumulada no espelho mágico do meu olho esquerdo... para ativar o meu novo feitiço!! - pensou Gauche, os reflexos dos três jovens no seu olho.
- Magia de Espelho: Brigada de Miragens!! - gritou Gauche.
Centenas e centenas de cópias de Azuli, Noelle e Asta ocupavam a caverna.
- Meninas! Conseguem fazer o monstro absorver a vossa magia de água como antes? - perguntou Gauche, apressado.
- Sem problema! - todas as centenas de Azulis gritaram, antes de criarem esferas de água à sua volta, bem como à volta das Noelles, fazendo-as flutuar na altura do monstro.
- Deixa connosco! - gritaram todos os clones de Noelle, junto da original.
Em posição, todas ao redor do monstro, varinhas apontadas para o alvo.
- Experimenta isto, seu lamacento! - todas elas exclamaram.
O momento seguinte foi de tirar o fôlego.
- Magia de Água: União dos Oceanos!!
Os clones de Azuli e os clones de Noelle, assim como as próprias, estavam sincronizados. O feitiço especial de ambas foi ativado, o cristal transparente de Azuli brilhava com a conexão, bem como os cristais dos clones dela.
Todas as pontas das varinhas tinham um brilho azul celeste, nenhuma gota de água foi lançada, mas definitivamente algo estava a acontecer. Toda a zona em que as meninas estavam tornou-se azul celeste, o monstro de lama crescia e crescia, o que não era um bom sinal... Ou pelo menos, não era um bom sinal para ele e para Sally. O monstro parecia perder a sua mobilidade e estrutura à medida que mais poder o rodeava e mais húmido e espesso o ar se tornava.
- Asta! - gritou Gauche. - Vai.
- Não precisas dizer de novo! - Asta e os seus clones correram rapidamente em direção ao monstro desfigurado, as suas espadas brilhavam com a magia lilás de Gauche.
Com a determinação de Asta e os seus clones, o monstro foi destruído pouco a pouco, muito rapidamente. Sally, que parecia estar a sufocar numa massa de gel aguada, foi atirada para o chão após atravessar uma parte da lama que se desprendeu do monstro.
- É isso aí!!! - cansados e em farrapos, os quatro Touros Negros comemoraram, junto ao coro de vozes dos clones que iam desaparecendo pela falta de mana do conjurador.
As poucas crianças atrás de uma Theresa pasma comemoraram a vitória dos seus salvadores.
Eles comemoravam, mas não eram os únicos.
- Ahahahahahah! - um som de divertimento soou pela caverna, silenciando os demais. Sally estava caída e a sangrar pelo corte de Asta, mas ela ria-se. - Isso... foi incrível! Eu preciso estudar e analisar esses poderes... que vocês usaram. - disse Sally, sorridente, mesmo ofegante e com sangue a escorrer da boca, misturando-se ao suor. - Vocês os três... Azuli, Asta, Noelle... Vocês são meus, sabiam?!
- Ainda estás acordada? - perguntou Asta, com os olhos em branco.
- Eu também?! - Noelle apontou para si, os olhos em branco. De maneira nenhuma que eu vou ser cobaia dessa maluca!! - pensou Noelle.
- Devias deitar-te um pouco, sim? - sugeriu Azuli, sorridente, suor a escorrer da têmpora. - Estás a alucinar.
Que feitiços foram aqueles? - o olhar de Theresa era incerto, ele vagava para onde anteriormente estava o monstro e os adolescentes que comemoravam. - Parece que toda a vitalidade do monstro tinha sido domada pelas meninas, enquanto o rapaz a drenou por completo! - ela olhou para o casaco do falecido Baro. Apesar do choque, Theresa logo sorriu serenamente. - Incrível! Isso realmente foi impressionante. Os trevos de três folhas que vão herdar o país estão a crescer muito bem!
- Meninas!! Atrás de vocês! - avisou Theresa, preocupada.
Isto não é bom! A minha magia esgotou-se! - pensou Gauche, com os dentes cerrados, impotente.
Atrás de Azuli e Noelle, o rosto de Baro estava à vista preso no corpo lamacento, ele estava prestes a atacá-las desprevenidas.
Apesar das probabilidades, o que aconteceu resolveu a questão imediatamente.
Neige havia disparado uma onda de neve no que restava do seu irmão Baro.
- Tu... - Noelle olhou para Neige atrás de si, surpreendida.
- Eu não posso perdoar quem fez isso ao meu irmão... Mas... Quem eu não posso realmente perdoar, sou eu mesmo, por ter deixado tudo nas mãos dele... e ter feito o que ele dizia. - Neige não deixava acumular as lágrimas, ele soltou-as livremente, permitindo-as rolar pelo seu rosto entristecido.
Anos atrás...
Um choro estridente soava na rua. Um menino com cabelo azul gelo estava encolhido a limpar as lágrimas do rosto.
- Até quando vais ficar aí a chorar, Neige? - um menino perguntou. - Olha, eu dar-te isto, está bem? - o menino estendeu a sua mão.
- Uou... Obrigado, irmão Baro. - Neige pegou no pequeno boneco de lama, semelhante a um boneco de neve, e olhou-o, contente.
De volta ao presente...
Desculpa, irmão Baro...
Em frente a um boneco de neve do Baro lamacento, Azuli e Noelle enfrentavam Neige.
- Tu chamas-te Azuli, não é? - perguntou Neige, olhando Azuli nos olhos. - Nós cometemos um sério crime. Esta é... uma das formas de assumir a responsabilidade. Mais tarde eu vou entregar-me aos guardas de Clover. E, um dia, irei redimir-me por todos os meus crimes e crueldades.
- Certo! - concordou Azuli.
- Hum... - expressou Neige, cabisbaixo. - Depois que eu pagar pelos meus crimes e for solto... Talvez, hum...
Não... Um desejo como este seria pedir muito, não é? - pensou Neige, entristecido.
- Vamos ser amigos, Neige! - exclamou Azuli, empolgada, atraindo o olhar de Neige novamente para os seus olhos.
Que radiante... - pensou Neige, que olhava para os olhos e o sorriso brilhantes de Azuli.
- Tu tens um coração incrível! Tenho a certeza que daqui para a frente, farás senti-lo ao teu redor! Obrigada por me teres salvado, Neige!
Saindo do seu estupor, Neige recompôs-se e ofereceu um sorriso feliz a Azuli.
- Obriga...
Neige estava feliz, ele ia agradecer, mas foi impedido. Antes de terminar de falar, sem ver, sem sentir, ele levou uma facada nas costas. O seu corpo caiu em cima de Azuli, que o abraçou gentilmente após os seus reflexos instintivos a fazerem-na pegar no rapaz, pois quem olhasse para ela, notava o transe que a congelava.
Ao lado de Azuli, Noelle segurou nos braços de Azuli e criou uma cúpula em volta de todos os aliados na caverna.
Esta luz! É ele novamente! As minhas cúpulas não serão o suficiente para deter os seus ataques, eu sei... Mas espero que amenize qualquer ataque fatal!
O que foi isso?! Essa magia... Nunca senti algo tão absurdamente... - Gauche foi surpreendido tardiamente. Duas flechas estranhas de luz espetaram o seu corpo, nomeadamente o ombro, rente ao peito, e a perna. - Eu... não vi nada... - Gauche caiu para trás, enquanto sangrava. A cúpula ainda ao seu redor.
- Gauche?! - preocupada pelo gemido de dor de Gauche, Theresa olhou para o rapaz caído. Ele parecia estar em apuros.
Reforços? Eles pretendem atacar tudo o que veem pela frente?! - pensou Theresa.
- Meninas!! Asta!! Venham para aqui!! - Theresa gritava enquanto corria para fora da cúpula e abria o seu grimório.
- Vovó! - exclamou Asta, que tinha Neige apoiado num dos seus ombros, enquanto Noelle apoiava Neige no outro lado.
Eu vou proteger as crianças!! - em meio a explosões, Theresa pensava no bem dos jovens.
Em meio à luz efêmera dos embates do fogo e da luz, lentamente, gotas de sangue escorriam para o chão.
Em frente às crianças, em frente aos jovens cavaleiros mágicos... Theresa estava empalada por flechas de luz. O escudo das crianças, antes vestida com uma batina branca, estava encharcado de sangue. A velha senhora mantinha-se de pé, mas nenhuma reação vinha de si.
- Velha!!! - um grito angustiado veio de Gauche.
- Irmã!! - as crianças rodearam Theresa.
- Vovó!!!! - Azuli e Asta foram acudir a mulher, após esta cair.
As barreiras não serviram para absolutamente nada! - pensou Noelle, horrorizada. - A minha mana está praticamente esgotada! O que vai acontecer agora?
- Crianças... - uma voz fraca foi a única prova de vida de Theresa, que não mexia os olhos sem vida. - Vocês estão bem? - o esforço fez-lhe cuspir sangue. - Sempre... No campo de batalha... São os mais fracos, as crianças inocentes, que são vítimas da guerra. Eu queria proteger essas crianças... Por isso, depois que deixei os campos de batalha, tornei-me uma freira. - disse ela, antes de desviar levemente os olhos para os Touros Negros. - Meninos, por favor, protejam estas crianças...
- Vovó! - Asta sentia-se impotente, ele não podia fazer nada para ajudar Theresa.
- Vovó! Não te esforces mais! Eu irei curar-te, espera só um pouco. Ficarás boa em um instante! - Azuli ajoelhou-se perto da senhora ferida.
- Não. - respondeu Theresa, fracamente. - Guarda o que te sobra de mana para proteger estas crianças, protege o futuro do reino.
- Vovó... Por favor, não desista aqui, agora... O seu encontro com o seu aprendiz, Fuegoleon, ainda não aconteceu. Vai adorar revê-lo! - Noelle sorriu confiante, porém os olhos estavam tristes.
- Vovó... - suor frio escorria da testa de Azuli. - Só um pouco, deixa-me apenas estancar essas feridas. Não me custa nada, acredita em mim. - lentamente, Azuli colocava as sua mãos sobre Theresa. Enquanto um brilho azul esbranquiçado rodeava Theresa, uma voz falou atrás deles.
- Do que estás a falar? - uma voz suave perguntou. - Vocês... já nascem pecadores.
Ao vislumbrar uma luz, Asta notou algo.
A mulher desapareceu?! Como? - pensou ele, confuso.
Asta olhou para quem causou tanto sofrimento em poucos segundos.
- Tu! Estavas no esconderijo do inimigo!! - gritou Asta, os dentes cerrados no fim.
- Eu ainda não me apresentei a todos, não é? - o homem passava o olhar por Noelle, que não conseguia desviar o olhar, e Azuli, que curava Theresa. - Eu sou... o líder do Olho do Sol da Meia Noite, Licht. - apresentou-se ele, com Sally nos braços, enquanto mantinha um sorriso sereno e dezenas de flechas de luz flutuavam atrás dele.
Não pode ser! Um grimório de quatro folhas? Igual ao do Yuno e da Azuli?! - pensou Asta, alarmado.
O sorriso desapareceu, lágrimas rolavam pelo rosto de Licht.
- Vejam o quanto feriram a minha companheira Sally... - Licht acariciava a bochecha de Sally. - Pobre Sally...
- Senhor Licht... - disse Sally, maravilhada, com a boca aberta de espanto.
- Ela disse que ia ao velho laboratório, por isso usei a minha magia, mas... Nunca imaginei que isso iria acontecer.
- Não é culpa tua, Valtos. - disse Licht. - Eles provavelmente usaram algum truque cobarde de novo. - Licht voltou a sua atenção para Theresa. - Há uns momentos atrás, disseste que as vítimas são sempre os fracos. Estás equivocada. As vítimas são os fortes. Eles são alvo de inveja, medo, discriminação, perseguição e roubo!
- Estás a falar do quê?! - perguntou Noelle, incerta.
- Princesa... Pertencendo à elite mais forte do reino, deverias saber do eu estou a falar. - respondeu Licht, antes de voltar ao assunto. - Não vamos perdoar o reino Clover. Desta vez, nós vamos destruí-lo, e criar o nosso próprio reino. - Licht passou Sally para Valtos.
- Que conversa demente estás a dizer?! Quem começou esta luta foram vocês! - gritou Asta, com a espada levantada ao alto. Mas, assim como nas outras vezes, sem ver, sem notar, Asta foi alvejado por uma flecha de luz na perna.
- Ahhhh! - Asta ajoelhou-se.
- Vocês começaram isto. Cala a tua boca nojenta. - ameaçou Licht, impondo uma atmosfera de medo e tensão sobre todos. - E por que alguém como tu... tem esse grimório?! - Licht virava as páginas do seu grimório.
Grimório? Ah! Não consigo ver os ataques de jeito nenhum! O que eu faço? Os ataques são incrivelmente rápidos e vêm direto para a minha direção... - Asta colocou a sua espada enorme à sua frente, pondo Noelle atrás de si, assim como Theresa e Azuli estavam. - Isto é tudo o que tenho! Vou usar a minha espada como escudo e avançar para evitar qualquer ferimento fatal!!!
- Ainda não acabei!! - gritou Asta, determinado.
A sua confiança quebrou assim que ouviu a voz atrás de si.
- Não adianta. Tu devolverás esse grimório. - Licht preparava um acúmulo de poder.
Apesar do semblante sinistro de Licht, em nada se comparava com o olhar intenso do detentor da katana.
- O quê?! Sério?! - Gauche olhava surpreendido para o seu capitão que apareceu de um momento para o outro entre Licht e Asta.
Asta e os demais ao seu redor deixaram a beira do extremo perigo.
- Capitão Yami?!! - exclamaram os três jovens cavaleiros mágicos. Azuli voltou a concentrar-se na cura de Theresa após a breve onda de alívio do estresse e tensão.
- O que vieram fazer aqui?! - perguntou Asta, reparando também em Finral atrás do capitão.
- Vieram salvar-nos?! - perguntou Noelle, por precaução.
- O quê? Não é óbvio? - Yami exalou o fumo do seu cigarro. - Eu estou perdido. Podem ajudar-me? - perguntou ele, tranquilamente, com a katana imbuída em trevas sobre o ombro direito.