29#A gêmea da Guerreira Dragão do Mar
Capítulo 29 - Lembranças que voam
- O baile será esta noite, comporta-te até à ocasião. - passos eram ouvidos em direção à porta do majestoso quarto, mas antes de passar pela porta aberta pelos servos, ele olhou pelo canto do olho para a criança cabisbaixa. - Não me envergonhes.
O impacto do fechar da porta pareceu esfriar o quarto. Por mais velas que houvesse a iluminar o quarto, o ambiente chuvoso permanecia, entristecendo a menina. Lembranças que nunca chegaram a acontecer voavam pela mente da doce criança, que era penteada pelas suas servas pessoais.
Vestidos, sapatos, joias, perfumes... As servas posicionaram-se ao redor da menina para que esta fizesse as suas escolhas. A cada decisão tomada, a menina parecia perder brilho no olhar, as suas respostas, os seus movimentos, nada passava outra emoção senão a tristeza.
Por que não podem orgulhar-se de mim? Eu não sou tão diferente das outras crianças... Papá, irmãos... eu e a Noelle somos tão desgraçadas que causámos a perda dos vossos sorrisos? - pensou a menina. Pela sua mente, ela lembrava-se dos muitos quadros da sua família antes dela e da sua gêmea nascerem... Eles sorriam, eles eram felizes, eles não são mais.
Amada ou odiada, os privilégios que detinha à nascença acompanhavam-na independentemente das opiniões alheias, portanto, ela encomendou ao mesmo famoso que pintou o retrato da sua família que ela mais gostava, com uma pequena diferença... O retrato incluía as duas gêmeas a mando da pequena Naomi. O desejo oprimido da menina, embora jamais pudesse ser concretizado, ficaria eternizado na pintura guardada no seu pingente de lua azul com raios brancos ao redor, o símbolo Silva estava presente no interior.
Em um pulo, a criança voltou à realidade junto ao trovão que rasgou o céu.
- Lady Naomi, como vão as preparações? Animada com o baile?! O seu pai pediu especialmente que usasse este colar nesta ocasião. Não se preocupe, é ajustável, vai-lhe ficar lindo!
Quem falava tão contente era a cuidadora pessoal das gêmeas do ramo principal da Casa Real Silva. Uma bela jovem adulta com longos caracóis dourados apresentava um lindo colar numa caixa impressionantemente decorada com joias. Embora incerta, o sorriso sereno da jovem acalmava Naomi, que estendia a mão até à caixa prateada.
Estendido pelas mãos, Naomi reconheceu de imediato o colar.
- É o colar da mamã! - exclamou Naomi, o rosto a iluminar-se e o sorriso a brotar.
O colar de ouro continha as conhecidas lágrimas do oceano. Joias essas conquistadas pela Princesa de Aço, Acier Silva, em uma das suas missões ao fundo do mar. Muitos foram os nobres que ouviram falar do presente dado à Princesa de Aço, mas para os demais, plebeus, camponeses, os esquecidos do reino, as lágrimas eram motivo de admiração e alegria. O presente era mais uma prova da bondade e da bravura que a população acreditava que a Princesa de Aço incorporava.
A pouca luminosidade oferecida pelo sol, foi-se escondendo gradualmente, e a escuridão da noite apoderou-se do céu estrelado sob a população de Clover.
Uma sombra passava pelo corredor movimentado do castelo Silva, o baile começaria dentro de uma hora e os membros da realeza Silva aprontavam-se. A sombra chegou então a uma porta ao fundo do corredor nos andares superiores do castelo.
Dentro do quarto, batidas constantes eram ouvidas, chamando a atenção de uma menina. O coração da menina acelerou momentaneamente, apenas até ao momento em que sentiu uma presença familiar do outro lado da porta.
- Mana, entra! - sussurrou a menina, puxando a mão da criança para dentro.
- Elle, eu ouvi! Eu ouvi a conversa do papá com Sua Majestade! Como é que eles podem pensar em fazer tal coisa?!
- Calma, tem calma, Naomi. - pediu Noelle, que enrolou a irmã em pânico em um abraço e sentou as duas no chão, apenas sob a luz das poucas velas que permaneciam acesas. - Que conversa? O que foi que ouviste exatamente?
- Elle... Eles querem que eu vá embora. - a criança não aguentou mais, as lágrimas rolaram pelo rosto. - Não para um palácio no reino nobre como suspeitávamos, mas para outro reino.
- Outro reino... - Noelle refletiu por um momento, apesar de incrédula. Decidida, ela voltou a falar, segurando os ombros da irmã, fazendo-a olhar para si. - Mimi, escuta. - e assim Naomi o fez, as lágrimas cessaram ao encarar a gêmea. - Por favor, vamos fugir juntas! Vamos sair daqui como planeamos! Eles sobrevivem sem nós, mas eu não imagino uma vida sem ti, mana! Por favor. - implorou Noelle, os olhos lacrimejavam com a ansiedade que era refletida no olhar.
De volta ao momento presente... Propriedade Shadow-Montemor...
A lua estava alta no céu, o frio passava pela pele descoberta por quem andava pelo jardim. A música e as risadas do baile ouviam-se ao longe, porém, o som da fonte relaxava e permitia que as pessoas entrassem no seu próprio mundo.
Um homem afastava-se no jardim e aproveitava a tranquilidade que lhe era proporcionada. Passando o olhar pela água, ele olhava para o reflexo da lua com um olhar distante.
Kaito, aqui vai!
Mais uma vez, senhorita!
Ahahahaha, estás todo encharcado, Kaito. Parece que venci outra vez! Está 22-18 para mim! E chama-me pelo meu nome, eu já disse!
Ahaha, ainda tenho que me acostumar, princesa.
- Ben?
O reflexo da lua ficou turvada, mas Benjamin não desviou o olhar.
- Ben? O que te preocupa tanto? Não tens te divertido desde que chegámos a este lugar.
A rapariga com que tu tanto sonhas... está morta. - a voz divertida do homem sádico ecoava na sua mente.
Benjamin afastou os pensamentos nublosos da sua mente e voltou-se para a fonte da voz, que o chamava tão docemente aos ouvidos dele.
- Azuli, posso fazer-te uma pergunta? - Ben olhava Azuli nos olhos.
Ele parece tão triste. - pensou Azuli.
- Pergunta o que quiseres, sou toda ouvidos. - respondeu a menina de madeixas, as luvas deslizaram das mãos, arrepios subiram-lhe pelos braços descobertos.
- De onde vem a vontade de ser a guardiã deste país?
A pergunta ecoava na mente de Azuli. A luz da lua reluzia na água, chamando a atenção da menina. Momentos se passaram até uma resposta vir.
- Quero amparar a queda do reino. Quero ser a primeira a vir a seu socorro.
- Não foi isso que eu perguntei. - Benjamin olhava para o cabelo de Azuli, que estava à sua frente, a brincar com a água.
- Eu sei o queres dizer. Mas a essa pergunta não posso responder ainda, sinto muito, Benjamin.
A água a cair na fonte e o farfalhar das folhas era tudo o que se ouvia pelos momentos intermináveis posteriores.
- Parece que vou ter que perguntar novamente. - disse Azuli, calmamente. - O que está a impedir-te de te divertires, Benjamin? O baile está animado, daqui a pouco é o bufê. Tomara que tenham bolos! - disse ela, sonhadora, enquanto pensava em encontrar um novo bolo preferido.
- Eu podia fazer-te a mesma pergunta. Por que não estás perto dos teus amigos, de certeza que eles gostariam de ter-te por perto. - disse Benjamin, o olhar na direção da fonte, mas os pensamentos pareciam distantes. - Ah? Para que foi isso?! - Benjamin esfregava a testa avermelhada.
- Estavas melancólico demais. Não gosto de ver-te assim. - confrontou Azuli. - Gostes ou não, és um dos meus amigos queridos. Não vou deixar-te aqui sozinho a definhar.
Lado a lado, os dois apenas permaneciam em silêncio. Azuli, aborrecida, foi brincar com a água. Com um olhar travesso, a menina olhou para Benjamin pelo canto do olho.
- Hmm... Que tal refrescar-nos um pouco? - perguntou ela, a mão no bolso que Vanessa costurou no vestido.
- Mais ainda? Está gelado aqui fora. - indignou ele.
Mas ele entendeu, ele aceitou. Afinal, quantas pessoas podiam resistir à bela visão que o rodeava.
- E então? Eu estava certa, ou não? - Azuli girava alegremente pela cúpula de água.
O brilho da lua parecia envolver os dois jovens.
Kaito, queres ver o brilho mais resplandecente da noite? - uma voz divertida perguntou.
Eu já estou a olhar para ele. Bem ali, ao longe. - apontou ele, deitado na relva.
Mas podia ser melhor!
O que poderia ser mais lindo que olhar para a lua? Só um cego para querer olhar para o sol. - respondeu o menino, um leve sorriso a formar-se no rosto.
Hm, então está bem. - as palavras saíram da boca da menina, mas isso não queria dizer nada. - Então... O que estavas a dizer? - perguntou ela, sorridente.
Isto é... o brilho da lua? - o menino maravilhava-se quanto mais tempo olhava para a pequena cúpula brilhante ao seu redor.
O brilho da cúpula refletia-se no olhar de Benjamin. Uma palavra sequer foi dita, memórias apoderavam-se do rapaz.
- Há muito tempo, eu fiz uma promessa a uma pessoa muito querida. Desde a invasão ao castelo Clover, nove anos atrás, a única coisa que me conforta é o brilho da lua. - desabafou ele. - Ela morreu.
Azuli escutava atentamente, a surpresa no seu olhar era evidente ao olhar para o rapaz. Um sorriso nostálgico enfeitava o rosto do jovem.
- Oh?! - expressou Azuli, olhar para o rapaz traziam-lhe memórias dos tempos felizes.
Benjamin estava ajoelhado diante de si, a mão sobre o coração.
- Azuli, por favor, aceita esta promessa e permite-me ser o teu protetor.
No salão de baile...
Uma família encarava-se. Trocas de olhares eram feitas, conversas passavam-se entre o silêncio dos olhares. Ao longe, Asta e Vanessa observavam a cena com estranheza enquanto Finral conversava e encantava as ladies solteiras com a sua doçura.
- Querida prima, estou contente que estejas sã e salva. Quando voltarmos, faremos uma comemoração oficial para a tua volta.- disse Fuegoleon, antes de cotovelar discretamente Nozel.
- Naomi. - cumprimentou Nozel, que recebeu uma segunda cotovelada do príncipe Vermillion, fazendo com que as veias da sua testa saltassem. Recomposto, Nozel dirigiu-se a Naomi novamente. - Fico contente... por teres sobrevivido.
Que sem noção! - pensaram Leopoldo e Fuegoleon, todos com uma gota enorme atrás da cabeça.
O irmão Nozel está esquisito. - pensou Noelle, a tensão do corpo a aliviar. - Ele ainda não me incomodou nem maltratou. Ele caiu na mentira desta falsa Naomi? Como pode ele não ter descoberto sobre a volta da Naomi antes? E por que razão ele e o primo Fuegoleon chegaram aqui tão alarmados?
- Irmão Nozel, eu não podia estar mais feliz em voltar a ver-te! Eu tenho um pedido muito especial a fazer-te, irmão. - disse Naomi, entusiasmada, sem nunca perder a postura.
Tão calma, tão elegante, tão... desconcertante. - pensaram Nozel e Fuegoleon. Eles não podiam deixar de comparar a Naomi de seis anos de idade que conheciam com a de quinze anos que está na frente deles.
- Pois bem, faz o pedido. Tratarei para que se realize. - disse Nozel, como sempre, sério.
- Sua Majestade permitiu que eu me juntasse a um dos esquadrões de cavaleiros mágicos desde que não estou mais noiva e tenho quinze anos, então, eu gostaria de juntar-me aos Águias de Prata. - disse Naomi, feliz.
Nozel olhava para os olhos de Naomi. A rapariga que estava na sua frente compartilhava traços físicos da sua irmã mais nova, mas não era o suficiente para Nozel, homem cujo ficou responsável pela irmã desde a sua nascença na ausência do pai dos irmãos Silva. Os olhos da sua irmã eram iguais aos da sua mãe, Acier Silva, o cabelo prateado era herança de ambos os pais, a magia de água era herança do pai, quanto à mana...
O que se passa com a mana dela? - questionou Nozel, mentalmente. - A sua mana é notavelmente digna da realeza, mas não é controlada, parece... que quer sair do corpo dela.
Analisados todos os pontos, tudo apontava que a rapariga na frente de Nozel era realmente a Naomi Silva, irmã mais nova do Silva. Mas não adiantava, o capitão dos Águias de Prata tinha o seu tempo e os seus métodos para alcançar o que queria.
- Muito bem. Como membro da família Silva, o teu direito a pertencer aos Águias de Prata está assegurado. - respondeu Nozel.
Hunf! Que mentira! Mentira das grandes! - pensou Noelle, irritada, antes de ouvir a confusão atrás de si, ao longe. - Ahah, mas por isso eu tenho de agradecer. Eles são tolos e imperfeitos, os amigos que me aceitaram. A-Acho que fico bem com eles. - Noelle olhava para as bebidas que Asta derramou ao tentar tirar as bebidas das mãos de Vanessa, que estava completamente corada, com um sorriso bobo enquanto dançava sozinha. O seu olhar parou na porta do outro lado da sala, Azuli e Benjamin entravam pela porta com um semblante feliz. - O que aqueles dois estiveram a fazer sozinhos?! - pensou ela.
- Irmã Noelle, vamos ficar juntas no mesmo esquadrão, não é maravilhoso? - perguntou Naomi, deslumbrada. - Poderemos proteger este reino juntas, a servir o nosso povo! - comemorou ela.
- Não. - respondeu Noelle, acabando com a felicidade de Naomi. - Bem... Acontece que eu pertenço aos Touros Negros, eu já estou adaptada naquele esquadrão. Desculpa, Naomi. Mas não te preocupes, podemos sair quando tivermos folga.
Tomara que ela ignore a última parte. - pensou Noelle, ansiosa.
- Noelle... - disse Naomi, entristecida.
- Elle! Olha só! Eles têm uma fonte de chocolate! Podemos pôr os doces que quisermos nela, vamos? - perguntou Azuli, com estrelinhas nos olhos, enquanto segurava um pretzel com cobertura de chocolate.
Ela não reparou, mas havia pessoas ao redor de Noelle.
- Menina problemática, estamos a ter uma conversa em família. Não incomodes. - mandou Nozel, o olhar sério dirigido à recém-chegada. Hum... Os olhos dela também são semelhantes aos da minha irmã, pelo que me lembro. Três pessoas com os mesmos olhos... - pensou Nozel.
- Oi, para ti também, capitão trancinhas. - Azuli olhou para quem estava ao lado de Nozel, após ouvir uma pequena risada. - Oh, capitão Fuegoleon, está tudo bem? Ficou muito ferido naquele dia, de certeza que está apto para andar por aí? - perguntou Azuli, preocupada.
- Estou perfeitamente bem, Azuli. Aprecio muito a tua preocupação, mas quem deve perguntar isso sou eu. - Fuegoleon apertou os punhos. - Eu permiti que duas cavaleiras recém recrutadas fossem feridas fatalmente, eu sinto muito, meninas. Devia ter-vos protegido mais adequadamente!
- Sem chance!! - exclamaram Azuli e Noelle, simultaneamente, revoltadas.
- O quê?! - indagou Fuegoleon. Eu sabia! Eu não mereço perdão pela desgraça que cometi! - pensou ele.
- A culpa não é tua, primo Fuegoleon! Aquele tipo era extremamente forte, para além de aldrabão! - exclamou Noelle, o punho cerrado levantado.
- Exatamente! Não podíamos adivinhar que aquele homem podia controlar a mana daquele lugar. Ele é um batoteiro! - Azuli cruzou os braços, irritada ao pensar no que aquele homem os fez passar.
- Até a nossa magia era afetada. - queixou-se Noelle, os braços cruzados como Azuli.
Fuegoleon, Nozel, Leopoldo e Naomi olhavam a cena das duas. Aos seus olhos, cada um tinha uma perspetiva diferente acerca da dupla.
Interrompendo os pensamentos de todos, uma visita se intrometeu na reunião familiar.
- Hã... Olá, desculpem interromper, mas... Noelle, Azuli, podem ajudar-me ali num instantinho? - Asta apontou para trás, os olhos ausentes e um sorriso envergonhado no rosto corado.
- Hã? - Noelle olhou para trás, seguindo a direção apontada.
- Com o quê? - Azuli virou-se para trás.
- Santa Deusa do Mar! Vanessa! - as duas meninas correram exaltadas até Vanessa.
Na mesa de bebidas, Vanessa monopolizava os vinhos que pôde na sua... condição. O vermelhidão do rosto não passava despercebido, muito menos a voz arrastada enquanto falava com um sorriso bobo. A sua risada aumentava por qualquer coisa, seja por quais palavras lhe dirigiam ou os gestos que lhe mostravam.
- Tu és muitooo bonito, ... queress sair comigoo um dia... destes? - perguntou Vanessa, enquanto tocava desleixadamente no rosto do homem à sua frente, que se afastava, envergonhado pelo toque da mulher em frente a todos.
- Mana Vanessa, vem, vamos ter com o Finral. - disse Azuli, a apoiar o lado direito de Vanessa.
- Ah, meninas...estãoo a... divertir-se? Este... bailee está um arrasoooo, nunca participei num assim... tãoo divertido. - disse ela, dificultando o trabalho de Azuli e Noelle em estabilizá-la.
- Ahah, está tudo bem, podem seguir com o baile. - disse Noelle, a sorrir de fachada. Logo a seguir apenas sussurrou: Vanessa, apoia-te em nós, vamos.
- Se calhar é melhor irmos embora mais cedo. - comentou Azuli, só para as duas ouvirem.
- No estado em que ela está, não vejo outra opç...
- Nãooo... Isto é tão divertidoo, sinto-me... tão... livreee. - disse Vanessa.
Na base dos Touros Negros...
Uma parede foi destruída, o interior estava em chamas.
Outra parede foi destruída em seguida.
- Parem de partir tudo! - gritou Yami, com o punho coberto de mana.
- Sinto muito! - gritaram Magna e Luck, cabisbaixos.
- Espero que eles estejam a divertir-se no baile. Eu queria ter ido com eles. Seria o momento perfeito para conhecer-nos melhor. - Gordon falava, mas suspeita-se que ninguém o ouviu.
- A minha querida irmã, Marie, ficaria maravilhosa num vestido de baile. - Gauche sangrava pelo nariz enquanto um sorriso enfeitava o rosto. - Amanhã irei comprar presentes para a minha preciosa Marie!
- Se eles não voltaram até agora é porque aquela bruxa bêbada ainda está em si. Caso contrário, já estariam aqui, muito provavelmente com um monte de nobres enfurecidos atrás da sua cabeça, ahahahahahah! - riu-se Magna, memórias do seu primeiro ano dos Touros Negros a passar pela mente.
- Sempre era uma animação quando a mana Vanessa ia junto. Tinha sempre magos fortes contra quem lutar! - exclamou Luck, animado. - Ei, capitão, se um monte de nobres enraivecidos vier até à Base, posso dar cabo deles, posso?!!
Yami, sentado no sofá a fumar, apenas sorria abertamente.
- Se esse for o caso, não vejo porque não. Ahahahahahaah!
De volta à propriedade Shadow-Montemor...
Duas pessoas saíram de um portal, perto de um poço. Árvores e arbustos rodeavam o local sereno onde os jovens se sentaram em um baloiço preso a um tronco.
- Tu não tens remédio, Vanessa. A bebida um dia vai causar-te sérios problemas.
- Eheh, mas tu... vais lá estar para me ajudar a reerguer. - respondeu Vanessa, a embriagues a melhorar.
Finral apenas balançou um pouco o baloiço, enquanto respirava o ar frio da noite.
- Desse jeito acho que vou vomitar. - comentou Vanessa, a mão a tapar a boca.
- Oh! Desculpa, esqueci-me. - respondeu Finral, imediatamente ele parou de baloiçar.
Vanessa brincava com a sua bracelete.
O silêncio que veio não reinou por muito tempo.
- Finral. - chamou ela.
- Hum? - expressou o amigo, distraído.
- Não vais arrepender-te de me teres dado esta bracelete? - Vanessa olhava para o seu presente. O brilho dos pequenos rubis a reluzir com o brilho dourado dos candeeiros. - Eu sei que não sou a dona original dela. É demasiado importante.
- Não conheço ninguém a quem gostaria de a entregar para além de ti. - uma resposta curta veio de Finral.
- Finesse? - suavemente, Vanessa perguntou.
- Não. - ele respondeu, sem olhar para Vanessa, apenas se concentrava nos sons à sua volta.
- Esse assunto ainda não está completamente resolvido. - a embriagues de Vanessa parecia ter ido embora. - Aquele pequeno arrogante ainda não se casou com ela, ainda há possibilidade de ocupares o teu lugar por nascimento. - terminou ela, o tom a baixar à medida que falava.
Cabisbaixo, Finral via-se em um pesadelo que tirava o brilho do seu olhar há anos.
Propriedade Vaude... 6 anos atrás...
Em uma mesa pousava uma caixa branca com toques prateados e dourados.
Um tempo após olhar para a caixa, o adolescente resolveu por fim colocá-la dentro da sua mala. Dentro, roupa e sapatos de qualidade, livros, uns grandes, outros pequenos, entre outras coisas, eram guardados junto à caixa, após uma última olhada, o rapaz fechou-a antes de sair por um portal azul esbranquiçado.
De frente para um palácio, o rapaz seguiu em frente até ao portão. A mala já não o acompanhava.
Chegando ao portão, o rapaz sabia como prosseguir. Uma carta foi entregue a um guarda, que a leu brevemente. Perseguido pelos olhares dos guardas ao longo dos corredores, o rapaz trilhou o seu caminho até à sala do castelo que sabia que a encontraria.
Respirando fundo, um sorriso no rosto, o rapaz bateu à porta.
Os momentos passavam, mas ela estava do outro lado da porta. O seu refúgio era aquela sala. Ele sabia.
- Bem-vindo, Finral. - uma voz fraca, mas simpática, cumprimentou. - Entra.
Dentro da sala, Finral manteve-se em pé. O nervosismo não passou despercebido pela mulher. O sorriso de Finral, a doce criança que um dia fora seu pretendente, não era sincero, não continha felicidade, não continha alegria.
- Ouvi dizer que entraste nos Touros Negros. Parabéns, Finral.
- Obrigado, Finesse. - Finral ofereceu-lhe um sorriso.
- Não pareces feliz. - analisou ela, a pousar a xicara de chá sobre o pratinho disposto na mesa. - Os Touros Negros... Acredito que será um bom começo para explorar o teu potencial, Finral. - disse ela, feliz.
- Estou no pior esquadrão do reino, mas sim... Estou contente com isso. Obrigado pela força, Finesse. Mas... - Finral esforçava-se para falar, ele tinha algo a dizer, mas ficava entalado na garganta.
Finesse esperava pacientemente Finral falar. O sorriso singelo da menina não desaparecia em meio à espera, a amabilidade no seus olhos roxos passava adiante para quem os olhasse.
Olhos nos olhos, Finral tomava coragem.
Eu vim aqui com um propósito. Não terei muitas outras oportunidades! - pensava ele.
Ele então respirou fundo, livrando-se da tensão que lhe pesava.
- Finesse, eu gosto bastante de ti. - desabafou Finral, as bochechas a corar em rosa bebé.
A surpresa passou para o rosto de Finesse, que não conteve esboçar um sorriso. O rosa nas suas bochechas contrastavam com a pele pálida da linda mulher.
- Mas tu és a noiva do meu irmão, eu respeito isso. Respeito muito... Contudo, por favor, eu quero dar-te um presente antes que cases com ele.
Uma pequena caixa rosa foi exposta na frente de Finesse, que a olhou, surpreendida.
Finral não olhava para Finesse, ele mantinha a caixa na frente de Finesse com as duas mãos, enquanto parecia fazer uma vénia exagerada à jovem realeza. Ele manteve-se assim até que sentiu a mão de Finesse acima da caixa, mas o que ele pretendia não aconteceu. Lentamente e delicadamente, Finesse baixava a caixa juntamente com a mão de Finral, que mantinha-se cabisbaixo.
- Lamento, Finral, não seria correto aceitar tais sentimentos.
- Hã?! Mas... Não, é apenas um presente de despedida! Ahahahahah! - Finral despenteava os seus cabelos, nervosamente.
- Eu também gosto de ti. - disse ela, desconcertando Finral em um instante.
- C-Como? - Finral procurava o significado daquelas palavras que saíram tão amargamente da sua paixão.
- Porém, este casamento não tem como prioridade os sentimentos, apenas é uma troca de favores, um contrato para o bem de ambas as partes envolvidas. No caso, a magia espacial na família real, e o poder, influência e riqueza para a família Vaude. A minha doença não me torna apta para ser uma maga, não me permite ter longevidade, portanto, é de suma importância que a minha vida seja utilizada para o benefício da coroa o quanto antes. A minha vida, o meu destino, estão pré-determinados, por essa razão, eu peço que me perdoes, Finral.
- Eu não quero que sacrifiques a tua vida para a coroa, Finesse. - disse Finral, as mãos a apertar a caixa. - Eu gostava... que fosses feliz, que vivesses a vida ao teu ritmo.
A vermelhidão subiu pelo rosto de Finral. Finesse afastou os lábios da testa do rapaz.
- Esforça-te para te tornares em um grande mago, Finral. Vive a vida ao teu ritmo, faz as tuas amizades, não te cales, ninguém deveria fazer-te sofrer. Eu terei notícias tuas, eventualmente, mesmo que não me queiras contar como foram os teus dias enquanto estás longe. As pessoas na realeza adoram conversar sobre os grandes feitos dos cavaleiros mágicos, ahah. - riu-se ela.
De volta à realidade...
És um menino gentil, isso é uma qualidade, não te enganes. - a voz de Finesse passava pela mente de Finral.
- Eu estava equivocado. - Vanessa olhou para Finral. - Eu desejava fazer os dias mais felizes com a Finesse, mas não tem jeito. Os meus sentimentos por ela... não são tão fortes quanto isso.
Apesar da tristeza, o sorriso de Finral também passava uma sinceridade admirável.
Vanessa encostou-se ao baloiço, e brincava com a bracelete.
- Obrigada. - ela agradeceu.
O silêncio pairava, não parecia ter um fim previsto. As correntes ligadas ao baloiço eram a única fonte perceptível. Os dois mantiveram-se encostados ao baloiço, sobre o luar, abraçados pelo vento gélido.
Nos arbustos ao fundo, um farfalhar de folhas passou despercebido.
- Eles vão congelar se continuarem ao frio daquele jeito. Atchin! - Asta espirrou.
- Isso é verdade, mas eles parecem muitos confortáveis no momento. - comentou Noelle, com um leve rubor rosa. - Não te aproximes tanto, Astúpido! - exclamou ela.
- Mas eu estou a morrer de frio. - tremeu Asta, enquanto se abraçava.
- O problema não é meu! - disse Noelle, que se voltou novamente para onde Vanessa e Finral estavam. Mas claro, ela também passou os seus braços ao redor de si. Como é que eles aguentam este frio?! - pensou ela.
- O Asta tem razão. O melhor é despedirmo-nos do anfitrião, chamar o Benjamin, e ir embora. Está muito tarde e é possível que amanhã voltemos às missões. - disse Azuli.
Todos pareceram concordar. Estava tarde da noite, e nenhum deles se podia dar ao luxo de ficar acordado até altas horas da noite.
- Então e o Leopoldo? - perguntou Asta, confuso. - Ele também veio connosco.
- Ele disse que irá com o capitão Fuegoleon. - respondeu Noelle.
Um arrepio passou por Azuli dos pés à cabeça.
- Muito bem! Vamos logo antes que viremos apenas um pedaço de gelo! - disse Azuli, a abraçar a si mesma enquanto tremia com o vento que passava por ela.