12#A gêmea da Guerreira Dragão do Mar

24-03-2025

Capítulo 12 - Invasão

- Então estas são as famosas batatas de Hage. - disse Salim, que estava sentado na ponta da mesa, a olhar para a mesa posta à sua frente. A mesa apresentava uma boa variedade de batatas. A única coisa para além disso, era a água.

- Não sei se vais gostar delas, Salim. - disse o padre Orsi, animado.

- São tão secas. Eu nunca comi nada que me desse tanta sede assim antes. - Salim disse, enquanto segurava uma batata na mão e pegava num copo com água com a outra.

A Irmã Lily e o padre Orsi estavam preocupados que Salim não gostasse da comida. Era tudo o que tinham a oferecer.

- Mas... é uma delícia. - acrescentou Salim, a olhar para a batata em sua mão. Essa fala surpreendeu a Irmã Lily e o padre Orsi.

- Ah, que bom. - padre Orsi disse com alívio.

- Parece que tu és uma esplêndida cozinheira, Lily. - Salim elogiou as habilidades da Irmã Lily a olhar para ela, que estava ao lado do padre Orsi.

Envergonhada, a Irmã Lily virou-se um pouco para o lado, para Salim não ver o completamente o rosto dela: Não sou tão boa assim. - após a fala, ela voltou a virar-se para a frente, com um sorriso.

- Por favor, coma à vontade. - padre Orsi indicou para que Salim comesse. - Vocês também, Klaus e Mimosa. - disse ele, a olhar para os dois.

- Certo... - Klaus estava apreensivo em comer. - Por que um nobre como eu tem de comer esta comida desagradável. - pensou Klaus, enquanto pegava em um pedaço de bolo de batata.

- Ai, fiquei com a boca seca na hora. - disse Mimosa, que deu a sua primeira dentada em uma das comidas.

- Sim, não é ótimo? - perguntou o padre Orsi, a sorrir de olhos fechados, igual à Irmã Lily ao seu lado. - O Asta e o Yuno mandaram-nos parte do primeiro salário deles como Cavaleiros Mágicos. Graças a isso... Conseguimos comprar tantas batatas que conseguimos deixar as crianças comerem à vontade... - disse o padre Orsi, com os olhos marejados de emoção, e no fim acabou por chorar.

- Aliás, não tinha como comprar outra coisa sem ser batata? - disse Nash, cansado de comer batata dia sim dia sim, em todas as três refeições. Agora que tinham condições suficientes para variar um pouco, ele desejava que isso acontecesse. Os seus irmãos, que estão no seu lado direito, concordaram com Nash.

- Não sejas reclamão! Vê como o Yuno cresceu só a comer batatas! - disse o padre Orsi, que parou atrás de Yuno, enquanto olhava para Nash.

- Yuno, que ótimo que estás a mandar dinheiro, mesmo sendo apenas um novato. - disse Salim, a olhar para Yuno, atraindo a atenção para si.

- Não é nada. - Yuno respondeu a olhar para o lado oposto de onde estava Salim, mas ainda com a cabeça virada para Salim.

- Yuno, obrigada por tudo. - agradeceu a Irmã Lily. Tu ajudaste-nos bastante. Não só pelas batatas. - disse a Irmã Lily, a sorrir.

- Nós conseguimos ajeitar aquele buraco no chão. - informou Recca.

- E até cavámos um poço no quintal. - informou Nash.

- Obrigada, irmão Yuno! - agradeceu Aruru.

- Obrigado! - repetiu o menino mais novo, Hollo.

Yuno, apesar da sua constante expressão de desinteressado, não foi capaz de mantê-la e impedir que um sorriso viesse à tona.

Recompondo-se, Yuno falou: O Asta também anda a mandar dinheiro? - perguntou ele, a olhar para o padre Orsi.

- Sim. Sé de pensar que ele conseguiu fazer isso... - disse o padre Orsi, que começou a chorar de emoção, lembrando-se do outro filho que foi embora da igreja.

- Quanto ele anda a mandar? - perguntou Yuno à Irmã Lily, curioso.

- Hã? Bem... - antes e revelar, a Irmã Lily decidiu aproximar-se de Yuno e falar-lhe ao ouvido.

- Ah! - Yuno surpreendeu-se com o que ouviu. A sua imaginação foi inundada por um Asta a gabar-se, dizendo: "Eu venci!". - A partir do mês que vem, vou mandar o meu salário todo. - o espírito competitivo de Yuno foi ativado. Ele não permitiria que Asta o vencesse eu nada.

- Hã?! Sério, não precisas. - disse Irmã Lily, que se assustou levemente com o que Yuno disse. - Nós não vamos precisar por um tempo, com a quantia que vocês mandaram. - disse ela, já endireitada. Obrigada pela consideração.

- Vou mandar! - insistiu Yuno, sem qualquer intenção de desistir.

- É mesmo? Obrigada... - disse Irmã Lily, desistindo de qualquer tentativa de fazer Yuno mudar de ideia, após perceber, através do olhar determinado de Yuno, que não tinha chance.

Cansado de todo este espetáculo, Klaus tossiu falsamente para chamar à atenção.

- Salim, vamos partir em breve. - avisou Klaus.

- Ah, ficar um pouquinho a mais não faz mal. - disse Salim, que até agora, vem ignorando tudo o que Klaus já lhe disse. - É importante para a nobreza ganhar mais conhecimento do mundo. - continuou Salim, enquanto olhava para a batata em sua mão e depois para Klaus novamente. - Lily, podes me dar um pouco mais de água? - perguntou Salim, a levantar o copo.

- Claro. - Irmã Lily foi até um vasilha, com um sorriso singelo. Mas quando chegou lá, reparou que faltava alguma coisa: Ah, está vazio. Eu vou buscar mais. - disse ela, enquanto segurava a vasilha nas mãos.

- Eu vou. - Yuno levantou-se e ofereceu-se para ir ao invés de Lily.

- Tudo bem. Podes relaxar, Yuno. - disse a Irmã Lily.

- Ah, um minuto. - disse Salim, a levantar-se.

- Hã? - Irmã Lily virou-se para Salim, que estava atrás dela.

- A noite está fria. - disse Salim, a cobrir Lily com o seu manto.

- Muito obrigada. - agradeceu Lily, antes se virar novamente e sair pela porta para ir buscar água.

- O senhor é um cavalheiro. - disse Nash, em pé perto de Salim.

- Ah, isso não foi nada. Eu agi por instinto. - disse Salim, voltado para Nash. - É a educação de um nobre.

Quem não foi com a atitude de Salim, foi o Yuno, que estava desconfiado das ações e motivos de Salim ser simpático e prestativo.

Fora da igreja, Irmã Lily estava a encher a vasilha pouco a pouco com um balde cheio de água, sempre mantendo um sorriso singelo no rosto. Mas quando se dirigia para dentro...

- Hã? - as crianças e Mimosa expressaram a sua curiosidade pelo som de algo a partir. Enquanto isso, Yuno imediatamente correu para o lado de fora, para verificar a Irmã Lily.

Após alguns entreolhares, Mimosa, Klaus e os demais seguiram para fora também.

- Irmão Yuno... - alguém exclamou.

Yuno estava perto dos estilhaços da vasilha que a Irmã Lily tinha enchido, em cima da relva. Mimosa e Klaus, junto a Salim, também se juntaram a ele, observando a cena.

- O que se passou? - o padre Orsi perguntou, enquanto corria perto das crianças.

- Onde está a Irmã Lily? - perguntou Nash.

Este broche... - pensou Klaus, enquanto olhava para o broche em forma de caveira em sua mão, que apanhou perto dos pedaços de vasilha.

- É o mesmo que um dos homens que estava atrás de Salim estava a usar. - disse Klaus.

- Q-Que horrível! - Salim sentiu culpa pelo o que aconteceu à Irmã Lily. - Claro! Deve ser porque vesti-a com o meu manto... A Lily foi levada no meu lugar! - disse Salim, pesarosamente. Ele ajoelhou-se, e continuou: Sim, deve ser isso.

- A Irmã vai ficar bem, irmão Yuno? - perguntou Aruru, com lágrimas nos olhos, abraçada à perna de Yuno.

- Irmão Yuno... - repetiu Hollo, perto de Aruru.

- Não se preocupem. Eu vou salvá-la. - prometeu Yuno, ajoelhado diante as crianças, enquanto olhava para o longe.

- Ahhhh! Yuno! Também vou! - gritou o padre Orsi, energético, enquanto virava uma vassoura acima da sua cabeça.

- Eu também! - disse Recca, que foi para o lado do padre Orsi.

- Eu também! - disse Nash, que foi para o lado de Recca.

- Não. - disse Yuno, a levantar-se. - Eu preciso que fiquem aqui. Eu posso ir sozinho. - disse Yuno, enquanto chamava a sua vassoura, levantando a mão.

- Espera. - a fala de Klaus fez Yuno parar de andar. - A nossa missão é escoltar o Salim. Não sabemos quando o inimigo virá atrás dele novamente. - disse ele, sério. - Nós temos de partir todos ao mesmo tempo. - terminou a fala, após ajeitar os óculos.

- M-Mas... - o padre Orsi não sabia o que dizer.

- Mas a Irmã... - Recca não terminou de falar, ela não sabia o que fazer ou dizer.

- Ei, quatro-olhos! - Nash gritou, irritado.

- Quem estás a chamar de quatro-olhos? - perguntou Klaus, enervado.

- Bem... Quatro... Não, Klaus... Bem... - Mimosa tentou intervir, mas não sabia concretamente o que dizer.

- Fica fora disto, Mimosa. - Klaus interrompeu-a, rudemente, e passou a falar com Yuno: Yuno, tenho a certeza de que estás preocupado com a Irmã, mas vamos deixar isso com as autoridades que possuem jurisdição aqui. Nós vamos partir imediatamente. - disse Klaus, com o grimório aberto para criar a carruagem novamente, na expectativa de ir embora. - Vamos, Salim. Yuno, Mimosa. - disse Klaus, dentro da carruagem.

- Sim, senhor. - disse Mimosa, desanimada, de cabeça baixada.

- Yuno. - chamou Klaus, novamente.

- Eu não vou. - disse Yuno, o que fez com que Mimosa parasse no seu caminho para pegar a sua vassoura, que estava encostada à parede pela surpresa.

- Nós precisamos cumprir a nossa missão. Desobedecer uma ordem é crime. - disse Klaus, a olhar para Yuno, seriamente.

- Mesmo assim, eu vou salvá-la. - disse Yuno, sem querer saber do que Klaus diz. Yuno atirou a sua vassoura para o alto e pousou nela após ser levantado pelo seu vento.

- Yuno! - Klaus tentou persuadir Yuno, mas de nada adiantou. Yuno já estava longe, em direção ao crânio.

- Tsc. Como ousas?! - disse Klaus, irritado pela atitude indisciplinada de Yuno.

Em casa de Azuli...

Momentos atrás...

- Ah!! - Asta rolou escadas a baixo para tentar fugir das flechas flamejantes que o perseguiam. Sem sucesso. As flechas seguiam-no mesmo que ele corresse em todas as direções.

- ... cuidado. - Noelle terminou a frase de Azuli, depois de ver Asta ser perseguido por flechas.

- Sim. - disse Azuli, a olhar para Vanessa e Noelle à sua frente.

- Aqui vou eu! - Asta tirou a espada do seu grimório e manuseou-a em direção às flechas. Contudo...

- Não funcionou?! - os quatros gritaram, surpreendidos.

As flechas estavam inteiras. Sem nenhuma alteração.

Atualidade...

Não funcionou?! Pensei que a espada pudesse cortar ou bloquear qualquer magia. Mas não é o caso. - pensou Asta, com suor a escorrer pela testa, enquanto desviava das flechas flamejantes que vinham em sua direção.

Apesar das meninas também estarem lá, parecia que as flechas só perseguiam Asta.

Vanessa tentou segurar as flechas com os seus fios, mas foi em vão. Assim que eles chegavam perto das flechas, sem ao menos tocá-las, os fios ardiam.

Semelhante coisa aconteceu no caso de Noelle, que, com a sua varinha recém adquirida para controlar os seus poderes, ela lançou esferas de água em direção às flechas, mas nada! Antes de tocar nas flechas, a água evaporava em um instante.

- Ah! - Asta estava a segurar as flechas com a sua espada. Mas as flechas pareciam que queriam atravessar a espada, elas faziam força contra ela, sem se desintegrarem e, o mais intrigante, sem serem anuladas. A espada estava a começar a ferver.

- Parece que nada do que fazemos afeta essas flechas. - disse Vanessa, preocupada.

- O que fazemos agora? O Asta não está a conseguir lidar com elas! - disse Noelle, pronta para atirar novas esferas de água, nem que servisse apenas para esfriar a espada.

Por que isto está a acontecer? - pensou Azuli, que preparou oito esferas de água, uma para cada uma das flechas, e atirou nelas, também com a sua nova varinha que ajudava no controle do seu poder mágico, semelhante à da Noelle, eram praticamente varinhas gêmeas, só mudava a cor da joia no fim da varinha, que era azul claro.

Asta correu, fazendo uma curva para despistar as flechas. Mas as flechas vieram novamente. Com a espada em sua mão, Asta estava disposto a contra-atacar as vezes necessárias, mas não foi necessário. Todas as esferas de água de Azuli colidiram com as flechas, que se despedaçaram e deixaram o fogo desaparecer junto da água.

- Ufa! Esta foi por pouco! - disse Azuli, aliviada pelo seu ataque ter funcionado.

Agora que tudo passou, Asta tinha algo importante em mente: Que flechas eram aquelas?! Nem com a minha anti-magia consegui anulá-las! Eram demais! - disse Asta, inclinado perto de Azuli, com estrelas nos olhos e os punhos levantados ao nível do peito. Ele estava fascinado pelo que presenciou. O avô de Azuli deve ser mesmo muito forte se foi ele que preparou esta armadilha! Será que a Azuli aprendeu com ele?- pensou Asta, ainda entusiasmado.

- Eh? - expressou Azuli, sem esperar esta reação de Asta.

- Idiota! Tu quase morreste! - gritou Noelle, incrédula e irritada pela estranhamente feliz reação de Asta.

Isto sempre foi assim? Ou o avô aprimorou as suas magias e aperfeiçoou as armadilhas antes de desaparecer? Desde criança, estas armadilhas são fáceis de derrotar. E mesmo agora... Por que só a minha magia funcionou nelas? - Azuli estava pensativa sobre o ocorrido de há instantes. Nada se encaixou na mente dela... Ela não entendia o significado por detrás de tudo, por detrás dos ensinamentos do seu avô...

- Ora, felizmente, todos estamos bem, então sugiro fazermos o que temos a fazer antes que a Charmy se canse de esperar por nós com o jantar. - disse Vanessa, com um sorriso enquanto envolvia os ombros de Asta e Noelle que estavam a discutir. - Né, Azuli? - Vanessa piscou-lhe o olho com um sorriso a enfeitar os lábios.

Obrigada, Vanessa. - pensou Azuli, agradecida por Vanessa ter desviado a atenção. Ela não sabia o que responder a Asta nem a Noelle pelo ocorrido de há instantes que pôs a vida do seu companheiro em risco.

- Sim! Vamos! - disse Azuli, voltando ao seu estado alegre, pondo de lado o que aconteceu e as suas dúvidas. - Mas é melhor seguirmos em frente juntos. - disse Azuli, com um sorriso, virando-se para os três, que estavam atrás dela agora.

- Concordo. Vamos. - disse Noelle, a ir para o lado de Azuli, sem desejo algum de ser alvo de uma dessas armadilhas malucas.

- Certo! Vamos lá! Eu estou tão animado! - disse Asta, com estrelas nos olhos, a olhar para a frente enquanto andavam.

Ai, ele não tem jeito. - pensaram Noelle e Vanessa com a atitude relaxada de Asta.

- Mmmhm - cantarolou Azuli, alegremente. Embora não seja como ela sempre imaginou trazer os seus amigos a sua casa pela primeira vez, ela estava feliz.

Após andar um pouco e ter subido algumas escadas, eles finalmente estavam perto do quarto de Azuli.

- Tantas escadas! Para quê tantas escadas? - perguntou Vanessa, que andou em inúmeras escadas pela casa. Ela já tinha perdido a conta do número concreto de escadas, mas afirmava serem demais.

- Só mais estas e estamos lá! - disse Azuli, que pulou de três em três degraus, apressada para voltar a ver o seu quarto.

- Eu também vou! - Asta começou a pular os degraus de três em três, impaciente pela vontade de descobrir o que mais havia naquela casa.

- É aqui. - Azuli tinha a mão na maçaneta da porta. Após abri-la, empolgada, ela e Asta entraram.

- Ai, eles precisam ser tão apressados? - perguntou Noelle, no cimo das escadas, à espera de Vanessa.

- Não há como mudá-los. Acho que eles nasceram assim. - disse Vanessa, que chegou finalmente ao cimo das escadas. - Agora... Por qual eles entraram? - Vanessa perguntou, com a mão na cintura, a olhar para as quatro portas pelo amplo corredor arredondado. - Aquilo é uma fonte?

- É... Acho que é. - disse Noelle, incerta, virando a cabeça para onde Vanessa olhava.

A Azuli é uma nobre por acaso? - pensaram as duas, sem olharem para si, mas em volta, discretamente.

- B-Bem, eles entraram por aquela porta. Dá até para descobrir em instantes. Eles causam muita zaragata - disse Noelle, de olhos fechados, enquanto andava em direção da porta.

- Ahah! Eles deixam-me feliz. A alegria deles é contagiante. - disse Vanessa, alegre, enquanto andava ao lado de Noelle.

- Hmf. - expressou Noelle, sem nada a admitir... ou sem querer fazê-lo.

Elas abriram a porta. O que viram dentro do quarto foi surpreendente, no mínimo.

- E isto, o que faz?! - perguntou Asta, com os olhos com estrelas, a apontar para um globo no meio do quarto.

- Toca, vai! - encorajou Azuli, com estrelinhas nos olhos, com o mesmo entusiasmo de sempre quando entra no quarto e experimenta tudo o que vê como se fosse a primeira vez.

- Uou! Que máximo!! - exclamou Asta.

- Não é lindo?! - exclamou Azuli, também a olhar ao redor.

Asta tinha tocado em um mar no globo. Então, em virtude da ação, o quarto de Azuli transformou-se em uma ilusão do oceano. Baleias, peixes, mar, bolhas de ar... podiam ser vistas pelos olhos dos presentes no quarto.

Nobre! Nobre, com certeza! - pensaram Vanessa e Noelle, com as bocas abertas e os olhos brilhantes, ao constatar o que viram desde o momento em que a porta foi aberta.

- Que lindo. - comentou Noelle, entrando no quarto para ver melhor a ilusão do vasto oceano. Ela amava quando pequenos peixes fofos, que ela nunca tinha visto, passavam por ela.

- É realmente maravilhoso. - comentou Vanessa, que tentou cutucar um cavalo marinho, que estava perto de alguns corais. Pela perspetiva de Noelle, Vanessa parecia estar a metros de profundidade, que ela mal a podia ver.

- Oh! Vocês ainda estão aí? - Noelle já não podia ver nenhum dos seus amigos. Ela estava sozinha no meio do mar, rodeada de pequenos peixes resplandecentes, que nadavam à sua volta.

- Aqui!

- Estamos aqui!

- Hã... Eu ouço as vossas vozes, mas não vos vejo. - disse Noelle, olhando em volta, mas tudo o que via era mar.

- Eh? - expressou Noelle.

- Pronto. - disse Azuli, perto do globo que Asta tocou. - Assim está melhor. - disse Azuli, sorridente.

A ilusão do vasto mar desapareceu. O quarto de Azuli era tudo o que viam agora.

- O teu quarto é muito lindo, Azuli. - disse Vanessa, olhando ao redor. - Eu não sei se teria coragem de o trocar pelo quarto da base dos Touros Negros. - disse Vanessa, a comparar este quarto com o deprimente quarto de Azuli na base dos Touros Negros.

Enquanto Asta voltava a explorar o quarto e olhava tudo com curiosidade, Azuli falou a Vanessa, sorridente: Não me incomoda! A base dos Touros Negros é demais! Tudo o que eu preciso é de levar alguns móveis para lá.

- Já decidiste o que vais levar? Tem aqui um monte de coisas. - disse Noelle, a olhar para Azuli.

- Vou ver agora. - disse Azuli, que foi até um baú, que estava encostada aos pés da cama. - Aqui! - disse Azuli, que pôs uma mala de couro frouxa preta no meio do quarto.

- Uma mala? - perguntou Noelle, confusa.

- Para quê uma mala? Vais levar mais roupa ou maquilhagem? - perguntou Vanessa, a olhar curiosa para a mala.

- Errado... bem, também. É aqui dentro que vamos levar os móveis! - informou Azuli, com um sorriso entusiasmado no rosto.

- Hã? - expressaram as duas, a inclinar a cabeça em confusão.

- Azuli, eu acho que não vai caber nada aí. Não tem como pôr móveis dentro disso. - disse Asta, juntando-se à conversa. - Olha, é muito pequena. Ah!

- Asta! - gritou Noelle, em choque.

- Asta? - Vanessa não entendia o que acabou de testemunhar.

- Asta, não é suposto pessoas entrarem na mala. - disse Azuli, a agarrar a camisola de Asta, que tinha metade do corpo ainda dentro da mala.

- D-Desculpa. - Asta estava com os olhos em branco. Quando ele ia demonstrar o seu ponto de vista, pondo um banquinho de metal dourado com um assento azul fofo dentro da mala, o impulso com que o fez e a inesperada entrada do banquinho na mala fez com que Asta fosse engolido por ela também.

Pondo Asta no chão, Azuli explicou.

- Esta mala foi criada pelo meu avô. Ela é capaz de armazenar vários objetos. Desde que o objeto não seja DEMASIADO grande. - Azuli deu ênfase ao demasiado, pois a mala suportava muita coisa, mas não tudo. Por exemplo, a sua cama, embora de casal, coubesse, se ela decidisse colocar uma cabana de madeira inteira, mesmo que descolada do chão, não entraria.

- É nela que vamos pôr tudo, então? - perguntou Vanessa, interessada na criação do avô de Azuli, enquanto se ajoelhava perto da mala, a observá-la. - Que interessante. - disse ela, com um sorriso.

- Entendi! O que vamos pôr nela? - perguntou Asta, pronto para ajudar.

- Só vou levar coisas necessárias e o mais pequeno possível. Então, vamos começar por ali. - disse Azuli, a encaminhar Asta para um canto do quarto.

- Não te esqueças que nem tudo aqui caberia no teu quarto na base dos Touros Negros. - lembrou-a Vanessa, que andava ao seu lado.

Parece que eles ainda vão estar ocupados a escolher. - pensou Noelle, que via Azuli a conversar com Vanessa sobre o que caberia ou não no quarto, enquanto Asta apontava para coisas que achava necessárias ao mesmo tempo que espreitava em algumas coisas, curioso. Noelle, então, começou a passar lentamente pelo quarto de Azuli.

O quarto dela era maioritariamente azul celeste, um pouco da linha do teto, tanto para cima como para baixo, encontravam-se partes brancas, com linhas douradas a delimitá-las e a separá-las do azul. Se Noelle tivesse que adivinhar, ela diria que as linhas eram, na verdade, feitas de ouro. As paredes eram ricamente decoradas por quadros, todos com temática de mar, água, e o que chamou mais à atenção de Noelle, foi um grande quadro de duas figuras humanas, aparentemente, gêmeas, de mãos dadas sob a luz cintilante da lua, que refletia nos seus cabelos trançados, a andar sobre um mar, que brilhava sobre os seus pés, como se respondesse à sua presença. As duas figuras tinham os braços entrelaçados e pareciam em sintonia entre si. O movimento dos cabelos, a forma como os seus braços se entrelaçavam, e o toque final, a forma como o mar as guardava e aceitava, como um ser protetor que as seguia e protegia.

Foi a Azuli que pintou este quadro? - pensou Noelle, após reparar que todos os quadros tinham em comum as técnicas utilizadas. Ela comentou que gostava de sair à noite sob a luz da lua. Esse gosto é evidente em todos os quadros. - pensou Noelle, a dar uma olhada em todos os quadros na parede.

Hm? O que é aquilo? - pensou Noelle, que viu um cintilar em uma gaveta, que fazia parte de uma estante castanha, que se estendia por toda a parede, parcialmente aberta.

- Noelle! Podes vir aqui ajudar-nos? - Vanessa gritava do outro lado do quarto, com uma mão perto da boca, como se quisesse ampliar o som da sua voz. - Os móveis já foram quase todos escolhidos! A cama é o único problema. - esta última parte, Vanessa disse só para ela mesma ouvir, mas para Asta e Azuli, que estavam perto dela, foi fácil escutar.

- Sim! Vou já. - disse Noelle, levantando a cabeça e indo em direção aos seus amigos ajudá-los, como prometeu. Noelle havia guardado o que encontrou na gaveta dentro da bolsa do seu grimório antes de se virar.

15 minutos mais tarde...

- Pronto! Já só falta a cama. - exclamou Asta, tendo posto o baú de Azuli no saco.

- Há alguma cama menor nesta casa que possamos levar? - perguntou Vanessa, a olhar para Azuli.

- Acho que tem algumas lá em cima, no sótão. - disse Azuli, lembrando-se de ter visto algumas camas de solteiro em um quarto lá em cima um dia.

- Muito bem. Vamos subir e buscar uma. - disse Vanessa, indicando com a mão para a seguirem. - Se bem que... é melhor a Azuli liderar o caminho. - disse Vanessa, que parou pouco depois de ultrapassarem a porta.

- Certo! - concordou Azuli, com entusiasmo, que logo liderou o caminho para ir buscar a única coisa que ainda faltava.

Um tempo depois, tudo o que vieram buscar, já estava dentro da pequena mala de couro frouxa.

- É tudo. Podemos ir embora antes que seja muito tarde. - disse Azuli, fechando a mala preta.

- Espero que cheguemos a tempo do jantar! - exclamou Asta, ansioso por uma boa refeição feita pela Charmy.

- Ainda vamos a tempo. Mas só se partirmos dentre os próximos minutos. - disse Vanessa, a olhar para um relógio que tinha ali pendurado.

- Muito bem! Vamos pela porta da floresta desta vez! - disse Azuli, com um sorriso, que parou no cimo das escadas enquanto olhava para os seus amigos.

- Porta da floresta? - perguntou Asta.

- Deve ser outra das tentativas do avô de Azuli de despistar as pessoas para longe daqui. - supos Vanessa.

- Ah, deve ser isso! - disse Asta, com os punhos levantados ao nível do peito. - Ei, Azuli?

- Sim, Asta. - disse Azuli, que começou a descer mais lentamente, ao mesmo tempo que Asta descia mais rapidamente para alcançar Azuli. Os dois ficaram nos mesmos degraus a descer as escadas.

- Por que o teu avô colocou armadilhas pela casa? Digo, esta casa parece ter coisas bem valiosas, mas não faria mais sentido armadilhar o terreno lá de fora? - perguntou Asta.

- O meu avô nunca me contou a verdadeira razão de armadilhar a casa. Mas o que eu sei, é que ele me protegia e escondia de tudo e de todos. - disse Azuli, com um sorriso, com um olhar distante, ainda a descer as escadas.

Esconder... Ele escondia-a... - pensou Noelle, a escutar a conversa que se desenrolava.

- Esconder? - perguntou Vanessa, curiosa pela história, embora o seu olhar também parecesse distante e melancólico.

- Tu ficavas aqui presa, sozinha? Ele não te deixava sair? - Asta queria saber mais. A sua amiga, que tinha uma alegria e disposição que o contagiou desde o momento em que a viu a falar sozinha, desde que ele descobriu que a mais simples coisa a entusiasmava, desde que viu que a mais pequena tragédia a incomodava ao ponto dela dar tudo de si para fazer as pessoas felizes, desde que ele a viu protegê-lo de comentários maldosos durante o exame, mesmo ela própria estando a sofrer do mesmo, desde... desde de todos os momentos que vivenciou com ela... ele queria saber mais. Ele queria saber mais do percurso de vida que moldou a sua amiga até hoje.

- Ahahah! Não é nada de mais. Não há nada com o que se preocupar. - riu-se Azuli, de olhos fechados. - Afinal, eu sei que o que ele fez, foi tudo para proteger-me. - disse Azuli. Avô, para onde foste? - pensou Azuli, pesarosamente, lembrando-se do dia em que acordou e o seu avô, com o qual dividira a vida desde os seus 6 anos, desapareceu exatamente um ano antes dela receber o seu grimório. Logo, logo farão 2 anos que ele me deixou. - pensou ela.

O silêncio instalou-se pelos quatro. Cada um deles estava no seu próprio mundo, a lutar contra os próprios pensamentos e demónios. O caminho para a entrada principal foi tranquilo. Sem conversas, sem pressas, sem barulho.

Como tudo no mundo, há um equilíbrio. Nada dura para sempre. É o que muitos dizem. E, de certa forma, têm razão.

Azuli abriu a porta dupla com uma chave dourada. Bastou enfiá-la no trinco, que ela abriu.

Um novo silêncio se espalhou. Quem antes estava a lidar com demónios interiores, agora teria de lidar com um de fora.

Os olhos de Azuli estavam embaçados. Ela não sentia quase nada. O mundo ao seu redor estava a transformar-se em escuridão.

- Ah! Que seca. Não foi tão divertido quanto imaginei. - disse um homem, a flutuar no ar no alto. O seu olhar só refletia tédio. Ele bocejava, e bocejava. - Bem, vou só buscar o que eu vim pegar e darei o fora daqui. - disse ele, a bocejar pela quarta vez.

Caindo a ficha aos três companheiros de esquadrão. Eles finalmente se deram conta do que se passava, saindo do transe inicial.

- Azuli!!!!!!!! - os três gritaram, desesperados, socorrendo a amiga.

Azuli, assim que a porta foi aberta, junto ao brilho da lua, uma flecha de luz também entrou pela porta. Flecha essa que ultrapassou por Azuli. Mais exatamente, na sua barriga inteira.

Azuli estava caída no chão, os olhos sem vida e o sangue a espalhar-se pelo chão. Sangue o qual os companheiros fariam o impossível para que parasse de transbordar.

Apesar das lágrimas e dos gritos apelativos para Azuli abrir os olhos, nada mudava. A cena à sua frente, a cena que eles não conseguiam desviar o olhar por mais que o quisessem fazer, não mudava.

- Que dramatismo. - disse o homem, a bocejar com a mão à frente da boca. - Hm... Então essa era a Azuli. Que pena que uma menina tão bela tivesse que morrer. Eu ficaria com ela de bom grado. - disse o homem, ainda no ar, a olhar para Azuli caída no chão, com um sorriso.

- Eu vou matar-te! - Asta garantiu, enquanto tirava a sua espada do seu grimório, que brilhava em um vermelho sangue.

- Ui, que medo. - disse o homem, com cara de tédio. - O quê? Vais levar-me à Terra dos nanicos e encher-me de porrada? É? - perguntou ele, com um sorriso presente nos lábios.

Sem aguentar mais, Asta correu em direção ao homem e saltou em sua direção, na pretensão de cortá-lo. Mas o homem era veloz. Asta nem foi capaz de vê-lo.

- Asta! - Vanessa gritou, aterrorizada.

O homem desconhecido estava atrás de Asta, com um ataque pronto em mãos.

- Até mais. - disse o homem, em um sussurro.

O que Asta sabia no momento seguinte, era que estava vivo.

Vanessa puxou-o para longe do homem e do seu ataque. Asta estava nos braços de Vanessa, desnorteado. Eles estavam perto de Noelle e do corpo de Azuli.

- Como é que foste capaz? Como é que foste capaz? - Asta, Vanessa e o homem desconhecido podiam ouvir sussurros. Sussurros constantes e raivosos. - Como foste capaz de fazer isto à minha amiga?! - agora, podiam ouvir a voz, não... A raiva em pessoa na voz da menina de cabelos prateados.

Agora que a encontrei... Agora que eu a encontrei... - pensou Noelle, a embalar o corpo sem vida de Azuli delicadamente, mergulhando-a nas suas lágrimas à muito, muito contidas.

- ... tu mataste-a!!!! - Noelle gritou com todos os seus sentimentos, lágrimas caindo como uma tempestade. Uma parte dela desejava ficar com Azuli, mas a outra desejava vingá-la. Mas havia concerto. E ele saberia disso... Neste caso... Ele já descobriu.

- Mas que... - o pensamento do homem foi interrompido. Interrompido... chamar de interropessão é um eufemismo. O tempo parecia acabar. Acabar para ele.

Resplandecendo de dentro de Noelle, do grimório de Noelle, um poder contido subiu até às nuvens, tornando-as escuras como carvão. Essa escuridão apossou-se das lágrimas de Noelle, pois assim como ela, elas começaram a chorar.

Com compaixão, o vento juntou-se à chuva, criando e espalhando lamúria por toda a redondeza.

Noelle e Azuli estavam envoltas do poder acolhedor de Noelle.

Tu vais voltar para mim. Eu prometo que desta vez não te deixarei sozinha.

Elle? O que se passa? Está tudo escuro.

Logo, passará.

Promessa?

Promessa.

Tudo o que Asta e Vanessa podiam fazer, era observar. 


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